Este texto nasce enquanto são apurados os resultados das urnas do segundo turno da eleição de prefeitos em muitos municípios brasileiros. É, portanto, uma ocasião muito adequada para abordar o sétimo objetivo da Plataforma Laudato Si’: “Resiliência e empoderamento da comunidade”.
Nossas cidades são ecossistemas complexos, e nossos problemas não são resolvidos de quatro em quatro anos apenas depositando o voto na urna. Além de escolher nossas lideranças com muita consciência, há outras formas de exercer a cidadania e atuar de modo participativo nas comunidades em que habitamos.
Em 2024, ao mesmo tempo em que temos mais instrumentos de colaboração e ativismo, também observamos a interferência dos algoritmos que radicalizam posicionamentos, dificultando a escuta, o diálogo e a ação coletiva. É nesse sentido que plataformas digitais potencializadoras da ação comunitária e presencial são instrumentos de resiliência e de empoderamento dos cidadãos para fundamentar a vida comunitária.
Iniciativas que se movimentam nessa linha atendem por nomes como “Movimento ODS Brasil”, “Rede Design para Inovação Social e Sustentabilidade” e a “Plataforma Laudato Si’”. Todas elas, em alguma medida, orientam a criatividade para a atuação local nas comunidades. Aqui nos dedicamos mais enfaticamente à última plataforma, porque ela dialoga diretamente com os objetivos do blog Missionárias SSpS Brasil.
Para a Plataforma Laudato Si’, a participação, a resiliência e o empoderamento da comunidade visam à defesa de direitos, desenvolvimento de campanhas e contribuição com o senso de comunidade e vizinhança. Teorias participativas, com frequência, passam por autores das ciências sociais, das humanidades e pela articulação mundo do trabalho/sindicatos. Os autores consultados tendem a ser de língua inglesa, francesa ou oriundos dos países escandinavos que lideram o debate. Há, porém, uma corrente que parte da perspectiva latino-americana e da decolonialidade, investigando a influência de Paulo Freire em tais teorias.
Considerando a proximidade de Freire com a Igreja Católica e a Teologia da Libertação, não é surpreendente que práticas comuns ao campo participativo estruturem as comunidades eclesiais de base e estejam presentes na Plataforma Laudato Si’ (https://plataformadeacaolaudatosi.org/). Esta é um instrumento aberto que possibilita vivenciar a espiritualidade a serviço da resiliência e empoderamento de nossas comunidades, tendo em vista a preservação de condições de vida de nossa casa comum.
Para saber mais
AMARAL, M. L. S.; MAYNARD L. B.; MAZZAROTTO, M. Paulo Freire e design participativo: contribuições, ausências e apagamentos. In: Anais do P&D Design 2022. São Paulo: Blucher, 2022. Disponível em: https://pdf.blucher.com.br/designproceedings/ped2022/2554593.pdf. Acesso em: 28 out. 2024.
PAPA FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato si’ do Santo Padre Francisco sobre o Cuidado da Casa Comum. Vaticano, 2015. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html. Acesso em: 8 set. 2024.
PLATAFORMA DE AÇÃO LAUDATO SI’. Roma: Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, 2024. Disponível em: https://plataformadeacaolaudatosi.org/. Acesso em: 8 set. 2024.
Marli Teresinha Everling
Professora dos cursos de Graduação e Pós-graduação em Design da Universidade da Região de Joinville (Univille); coordenadora do Projeto Ethos – Design e relações de uso em contexto de crise ecológica; colaboradora do Instituto Caranguejo de Educação Ambiental (caranguejo.org.br); colaboradora do blog SSpS Brasil para temas ambientais (https://blog.ssps.org.br/posts); colaboradora das redes sociais do design para temas ambientais – Instagram @designuniville