Estamos em ano de eleições neste 2022. Muitos brasileiros dizem não gostar de política ou não quererem se envolver. Porém o que é política? A palavra “política”, no grego antigo politikós (pólis + ethos) quer dizer “conduta da cidade”, comunidade de vida, dos cidadãos. Alguns exemplos: Petrópolis (cidade de Pedro), Fernandópolis (cidade de Fernando), Rondonópolis (cidade de Rondon), megalópoles (cidade grande). No Período Romano, a palavra “política” passou a equivaler à palavra “cidadania”, do latim antigo (civitas). Portanto as palavras “política” e “cidadania”, em suas origens, querem dizer a mesma coisa.
Nesse sentido, desde os tempos da Grécia Antiga, o pensador Aristóteles (século IV a.C.) definiu política como a ciência de bem governar, administrar os conflitos e as necessidades para o bem comum, o que diz respeito aos cidadãos e ao governo de uma cidade. No regime democrático, como acontece no Brasil, os cidadãos capazes participam e tomam decisões nos negócios públicos por meio do voto. Infelizmente, muitos cidadãos brasileiros confundem “política” com “politicagem”, que significa, segundo o dicionário Aurélio, “política mesquinha, de interesses pessoais, desonesta”.
Quando ouvimos alguém dizer que dá seu voto a um candidato em troca de cem reais, porque assim ele vai poder comprar dois quilos de carne, isso é politicagem, pois essa pessoa não está pensando na coletividade, na verdadeira política, mas só nela ou só na família dela, em vez de pensar no bem comum. Trocar o voto por um favor (cargos, emprego, dentadura, saco de cimento, etc.) não é correto. Por isso o cidadão deve ser ético, que é a virtude fundamental para combater a corrupção no governo.
Cidadão é aquele que cumpre com os deveres e garante seus direitos para com o Estado. O governo, conjunto dos representantes, cobra tributos para o Estado atender às necessidades de sua população. Devemos fiscalizar, no entanto, para onde vai o dinheiro arrecado dos impostos (IPTU, IPVA, IR, ICMS, etc.). Assim, a política tem dimensões: territorial (refere-se ao espaço em que vivemos), social (diz respeito à educação, à saúde, ao transporte, às aposentadorias e outros), econômica (atividades em relação ao trabalho humano), ideológica (abrange o capitalismo e o socialismo) e a partidária (quais partidos representam os grupos da população).
Quando o cidadão entende bem o que é política, ele participa, vota conscientemente, acompanha os representantes eleitos do povo e cobra deles posturas diante de reivindicações justas para todos. Daí a necessidade de debates para se conhecerem os projetos de lei apresentados em plenárias, tanto nas câmaras municipais quanto nas assembleias legislativas e no Congresso Nacional. Pode-se participar enviando e-mails ou pelas redes sociais, pelos canais de tevê (Senado, Câmara, Justiça), ou presencialmente. E devem-se denunciar os atos arbitrários à cidadania.
Em 2023, muitos representantes do povo, no Poder Legislativo, ocuparão o Congresso Nacional e as assembleias legislativas para elaborarem e votarem projetos de leis que devem ser em benefício de todos os cidadãos, além de fiscalizarem o Poder Executivo. Ainda, há alguns Estados da Federação (governadores) que não foram definidos, e a disputa pela Presidência. Esse Poder tem como função executar o que está previsto em lei e representar o Estado ou o País por quatro anos.
Constatamos, todavia, que a política envolve relação de poder. Desde tempos remotos, o fenômeno “poder” está enraizado na natureza do ser humano. Se, por um lado, aparentemente trouxe benefício para uns, por outro, causou e tem causado sequelas para a grande maioria da humanidade, como a miséria. Se o governo não for democrático, volta às ditaduras, aos imperialismos, à exploração dos mais necessitados, causando violência; esta gerada pelas “legitimidades” outorgadas ou promulgadas no discurso dos “direitos”.
Quando o filósofo Aristóteles afirmou que o “ser humano é um animal racional, social e político”, percebeu que fazer política exige persuasão, convencimento, saber falar. O ser humano é o único animal que tem como característica a capacidade de distinguir o justo do injusto, o certo do errado, o bem do mal. No Brasil, porém, desde o Período Colonial, segundo o linguista Alfredo Bosi, a linguagem tem sido usada para violentar as mentes dos povos tradicionais, causando o etnocentrismo, a violência dos costumes. Até hoje, são violentados em suas aldeias pelo desmatamento das florestas, pela não demarcação de suas terras, pelo avanço do garimpo e das madeireiras. De acordo também com o pensador Assaman, a linguagem foi e tem sido uma forma de apagar a “memória” de grupos ou do povo. Constatamos isso nos livros de História do Brasil, nos quais não se falava dos heróis e heroínas ameríndios e afrodescendentes de nosso povo, mas somente dos vencedores europeus.
A violência econômica, gerada pelo capitalismo, perpassa pela globalização produzida pela mídia, conforme outros estudiosos do assunto, atingindo não apenas a violência física, mas também psicológica diante do bombardeio tecnológico, agora informatizada, tendo os indivíduos de enfrentar problemas político-econômico e religiosos, como já alertava Freud em O mal-estar na civilização.
A violência às crenças dos indivíduos, à sexualidade, atualmente controlada pela tecnologia do “metaverso”, dos robôs mal-intencionados é um desafio para a sociedade brasileira, que busca livrar-se da politicagem do egoísmo. É necessário abordar a diversidade, exercer o poder popular por meio do voto consciente, em busca de uma política do convívio social tolerante, justo e fraterno, pela qual todos possam, de fato, gozar dos direitos, sem violência, e o poder ser exercido em favor da vida. Ser cidadão é ser político. Participe conscientemente de seu dever e garanta a vida para todos.
Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia (USP), especialista em Ensino de Filosofia (UFSCar); graduada em Filosofia (UFJF), Pedagogia (Unitins) e Teologia (Mater Ecclesiae); filiada à ABA, APEOESP, SBPC; professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC; voluntária na Comissão de Prevenção e Combate à Tortura (ALESC) e na Pastoral da Pessoa Idosa, ligada à Arquidiocese de Florianópolis-SC; membro da diretoria da Aproffib (Associação de Professores de Filosofia e de Filósofos do Brasil).