A Semana Santa é um tempo de vivência profunda da fé, no qual acompanhamos de maneira intensa o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, especialmente na Sexta-Feira Santa, no Sábado Santo e no Domingo de Páscoa.
Este ano, no entanto, a Semana Santa será completamente diferente dos outros anos. Com a pandemia provocada pelo coronavírus, não poderemos participar das celebrações nas igrejas… Não haverá a missa do Lava-pés na Quinta-Feira Santa… Não haverá a adoração da cruz nem a celebração da paixão de Jesus na Sexta-Feira Santa… Tampouco haverá a Vigília Pascal com a bênção do fogo e a entrada triunfante do círio pascal. Também não teremos a missa do Domingo de Páscoa…
Então, como esta semana será santa? Como vamos viver a nossa fé e celebrar o ponto culminante da vida cristã que é a Páscoa?
Talvez, este momento de sofrimento que atinge todos os países, seja uma oportunidade de participar do mistério da paixão de Jesus, oferecendo nossa dor, nossas incertezas e perdas, a solidão do isolamento, o medo e a angústia que sentimos, unindo-nos ao sofrimento de Jesus para o resgate de toda a humanidade.
Viver esta Semana Santa na fé é um grande desafio, mas somos convidados a fazer de nossa casa uma Igreja doméstica, a reunir nossa família e acompanhar pelas TVs católicas as celebrações das missas. Em comunhão espiritual, podemos nos unir a Jesus no dom de sua entrega total e rezar por todos os que estão sofrendo nos hospitais, e também por tantas pessoas que, a exemplo de Jesus, estão colocando a própria vida em risco para cuidar dos doentes ou prestar serviços essenciais.
O que celebramos na Semana Santa é justamente o mistério da vida de Jesus e seu amor infinito, que se doa até o fim. É o esvaziamento do Deus que veio ao mundo como criança, ensinou o mandamento do amor e mostrou que é possível, em nossa humanidade, aproximar-nos do Pai e nos acolher como irmãos e irmãs, por que, em Deus, somos todos um. Mas talvez esta realidade ficou esquecida e foi necessário que um vírus invisível viesse nos mostrar que de fato somos um e o que acontece com os demais também nos atinge.
A ressurreição de Jesus é a confirmação de tudo quanto Ele fez e ensinou. É o cumprimento da promessa da salvação de Deus que, em Jesus, liberta-nos da morte e nos convida a participar da vida plena. Mas, para chegar à ressurreição, Jesus enfrentou o sofrimento e a morte na Cruz. Nós também superaremos esta crise! Que Deus nos ajude a aprender de tudo o que estamos passando. Que Jesus nos dê a força da solidariedade para viver também o mistério da paixão, morte e ressurreição de toda a humanidade.
Quinta-feira Santa
Na verdade, o Tríduo Pascal começa na noite da quinta-feira, quando a Igreja recorda a última ceia de Jesus com os seus discípulos. Nessa missa, há o rito do lava-pés, em que Jesus revelou o caminho do serviço e do cuidado com o próximo. Conforme narra o Evangelho de São João, durante a refeição, Jesus pôs um avental, pegou uma toalha e lavou os pés dos seus discípulos. Depois os convidou a fazer o mesmo.
Também lembramos a instituição da Eucaristia, quando Jesus, durante a ceia, tomou o pão e o vinho, e os deu aos discípulos, dizendo que eram o seu corpo e o seu sangue. Em todas as missas, fazemos a memória de Jesus, quando o padre consagra o pão e o vinho, que se tornam o corpo e o sangue de Cristo.
Após a ceia, Jesus foi ao Monte das Oliveiras, ou Getsêmani, e, sabendo o que estava para acontecer, colocou-se em oração diante do Pai e pediu que afastasse o cálice da dor e da morte, mas se entregou totalmente, dizendo “Faça-se a tua vontade e não a minha”. Naquela mesma noite, Jesus foi preso, humilhado, maltratado… Nas igrejas, no fim da missa dessa noite, o Santíssimo Sacramento é retirado do sacrário e levado para outro local, onde a comunidade fica em adoração.
Sexta-feira da Paixão
Recordando a paixão e a morte de Jesus, que ocorreram na sexta-feira, os católicos fazem um dia de jejum e oração. Acompanhamos a Via-Sacra de Jesus, desde seu julgamento injusto e condenação à morte, sua flagelação e o caminho até o calvário, carregando a cruz de todas as maldades humanas.
A Sexta-Feira da Paixão está muito presente na religiosidade popular, pois, diante de todas as dificuldades que o povo enfrenta para sobreviver, identifica-se com Jesus sofredor. No Senhor, encontra forças e esperança para suportar os desafios da vida.
Nas igrejas de todo o mundo, os católicos se reúnem pelas três da tarde para rezar na mesma hora em que Jesus morreu na cruz. É o único dia do ano em que não se celebra a missa. Não se tocam instrumentos musicais e até o altar fica completamente despojado. É feita a narração da paixão de Jesus e se reza por todas as situações do mundo. Na adoração da Cruz, os fiéis se aproximam e beijam o crucifixo.
É costume também haver a meditação da Via-Sacra pelas ruas, muitas vezes com encenações, acompanhando os passos de Jesus até o calvário. Na Via-Sacra, rezamos também por todas as pessoas que sofrem injustamente ou são perseguidas, pela superação das forças da morte que oprimem a humanidade, como a fome, o desemprego, a falta de sentido, a falta de saúde, de moradia e tudo o que destrói a dignidade humana, como o abuso sexual, as drogas e tantos outros.
Também recordamos Maria, a mãe de Jesus, que o acompanhou em todos esses momentos, entregando-o a Deus. Em seu sofrimento, ela foi corredentora. Em muitas comunidades, há a tradição de rezar as sete dores de Maria.
Sábado Santo
No Sábado Santo, nós lembramos Jesus na sepultura. É um dia de silêncio e reflexão. Somos convidados a experimentar o vazio e refletir sobre tudo o que Jesus fez e significa em nossa vida. Na tradição da Igreja, esse é o dia em que Jesus desce à região dos mortos e resgata Adão e toda a humanidade com ele.
Mas, quando chega à noite, toda a tristeza transforma-se em alegria, durante a Vigília Pascal. Está é a mais bela e a mais longa de todas as celebrações. Começa do lado de fora da igreja, ao redor de uma fogueira. O fogo é abençoado e, com ele, acende-se o círio pascal, uma grande vela que é sinal da luz de Cristo ressuscitado.
Depois, todo o povo, com velas na mão, entra na igreja ainda escura. O diácono ou o sacerdote entra carregando o círio e anuncia três vezes: “Eis a luz de Cristo!”, e o povo responde: “Demos graças a Deus!”. Da chama do círio pascal, todos acendem a sua vela, iluminando toda a igreja. Então com cantos, leituras e orações, recorda-se a história da salvação desde a criação do mundo até a ressurreição de Cristo.
Na Igreja primitiva, a Vigília Pascal terminava ao amanhecer. Atualmente a celebração pode durar de duas a três horas. Além do anúncio da Páscoa, dos cantos alegres e animados, há também a celebração do batismo de adultos e a renovação das promessas batismais.
Domingo de Páscoa
Domingo é o Dia do Senhor por causa da Ressurreição de Jesus. De manhã bem cedo, as mulheres foram ao túmulo de Jesus e encontraram removida a pedra que o fechava e vazio o lugar. Um anjo anunciou-lhes que Jesus havia ressuscitado, e elas correram, cheias de alegria, anunciar aos apóstolos que Jesus estava vivo.
Páscoa é a festa da vida que vence a morte. Por isso é cheia de símbolos que falam de vida. O coelhinho, por exemplo, é o primeiro animal que sai das tocas no início da primavera, no Hemisfério Norte, quando o chão ainda está coberto de neve. Por se reproduzir muito rapidamente, é símbolo de fertilidade e de vida.
Também o ovo é símbolo de vida. Por fora, parece morto, mas, por dentro, esconde a vida que se desenvolve até romper a casca. O pintinho que sai de dentro do ovo também fala de ressurreição. Antes, não havia ovos de chocolate, apenas ovos de verdade, com as cascas coloridas.
Viver a Páscoa é comemorar a festa da vida. É acolher o amor de Jesus que nos liberta da morte e seguir os seus passos, amando as pessoas, cuidando, colaborando, ajudando, servindo, como fez Jesus. É acreditar que o mundo pode e será melhor. Que é possível construir a paz.
Celebrar a Páscoa é recomeçar cada dia de novo, renovar a esperança e seguir em frente, pois a vida é eterna e a morte, apenas uma passagem. Que possamos viver todos os dias com Cristo, no amor e no serviço aos irmãos, para participarmos de sua vida na pátria eterna, onde a alegria não tem fim!
Feliz Páscoa!