Presença das ONGs e desfechos da COP-27

Em novembro, os olhares atentos de ambientalistas, especialistas e de todos aqueles com a consciência de que nosso planeta foi levado ao limite voltaram-se para acompanhar a realização da COP-27, a 27ª Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Com o lema “Juntos para a implementação”, a conferência reuniu na cidade do Cairo, Egito, líderes mundiais para analisar medidas de contenção às mudanças climáticas, firmou acordos históricos e provocou muitas reflexões sobre minorias e, claro, sobre o futuro do planeta.

Para a maioria dos 190 países, a principal medida do encontro foi a declaração final e o acordo histórico sobre perdas e danos causados por eventos climáticos. O ponto fundamental do acordo prevê a criação de um fundo de compensação de danos climáticos que deve fornecer financiamento para os países mais vulneráveis.

Em linguagem diplomática e do ponto de vista de organizações não governamentais, especialmente parceiros da Vivat International, essa decisão foi bastante significativa porque estabeleceu um vínculo bem claro entre causa e consequência: de um lado, quem provoca o aquecimento global e a crise climática (os países emissores); de outro, quem sofre as consequências (países pobres que enfrentam os efeitos mais severos do aquecimento global).

Para o padre Paulus Ramath, codiretor da Vivat International, que esteve no Egito representando a organização da qual nós, missionárias servas do Espírito Santo somos membros, a criação do fundo é um marco histórico de mais de 30 anos de grandes esforços da sociedade civil. Ele conta também que o protagonismo das ONGs na decisão histórica da COP-27 foi reconhecido pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmando que “A justiça e a ambição exigem a voz da sociedade civil”.

Simon Stiell, secretário executivo de Mudança Climática da ONU, considerou a decisão um avanço significativo. “Determinamos um caminho a seguir em uma conversa de décadas sobre financiamento para perdas e danos, deliberando sobre como lidar com os impactos nas comunidades cujas vidas e meios de subsistência foram arruinados pelos piores impactos da mudança climática”, declarou.

A participação do Vaticano como parte formal da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e do Acordo de Paris foi extremamente relevante. O novo status do Vaticano significa que a delegação da Santa Sé, liderada pelo cardeal Pietro Parolin, tem voz e poder de voto nas decisões que exigem unanimidade, conforme regras da ONU.

Outra iniciativa que merece destaque é a aliança firmada entre os três países detentores de 52% das florestas tropicais primárias do mundo: Brasil, Indonésia e República Democrática do Congo. Líderes dessas três nações querem preservar o bioma. Eles entendem que a Cooperação Sul-Sul (cooperação técnica entre países em desenvolvimento no Sul global) é fundamental para o combate às mudanças climáticas e acreditam que, juntos, podem unir forças para tratar da conservação e da recuperação mundial de florestas.

“Deixou muito a desejar”

A irmã Rosa Martins, missionária scalabriniana e jornalista, questiona os resultados da COP-27. “Pelos desafios impostos à humanidade por meio dos constantes desastres climáticos que têm dizimado principalmente os países em vias de desenvolvimento, isso graças ao descuido de todos com a natureza, pode-se afirmar que a COP-27 deixou muito a desejar”, afirma.

Para ela, analistas e observadores do clima entendem que a Conferência de 2022 teve uma agenda de reparação. Ela recorda que, mesmo com importantes passos, a pauta foi “discutir sobre um financiamento às populações que não conseguem mais resistir ou se adaptar aos impactos das transformações do clima e estão em constante sofrimento com eventos climáticos devido ao efeito estufa, como aumento do nível do mar, imigração constante causadas pela intensidade das chuvas”.

“Todos ficam com a sensação e a certeza de que COP-27 não deu a resposta que o mundo precisava ter diante da crise climática contemporânea”, resume.

Rosa M. Martins

Mestra em Jornalismo, Imagem e Entretenimento pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Filosofia pela Universidade Salesiana de Lorena (Unisal), bacharela em Teologia pela Pontifícia Universidade São Boaventura de Roma. É missionária scalabriniana e vive em Santo André-SP. Indicada ao Prêmio Tarso Genro de Jornalismo em 2020, foi vencedora do Prêmio Papa Francisco, categoria mestrado, do Prêmio CNBB de Comunicação, com a dissertação “Menores estrangeiros não acompanhados: uma análise da representação no fotojornalismo italiano”, em 2021. Trabalhou no Dicastério da Comunicação (nos setores Rádio Vaticano, Vaticanews e transmissão televisiva), como jornalista estagiária, em 2023. É assessora executiva da CRB-SP. É ativista dos direitos humanos e assessora de pastorais na Igreja do Brasil.

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