No início de 2018, retornei à missão junto ao povo Xerente e logo me tornei um dos membros do NIPAX (Núcleo de Intercâmbio do Povo Akwẽ Xerente), assim como outros apoiadores: Ir. Sílvia, Thêkla Maria Wewering, SSpS, e Pe. Martins Rodrigues Putencio. O grupo é formado por lideranças masculinas e femininas xerentes, pelo qual buscamos refletir e agir conjuntamente, no que se refere a questões fundamentais (terra, cultura, identidade, autonomia) para a sobrevivência como povo.
Neste ano, o nosso trabalho está voltado para os seis clãs dessa etnia. Realizamos ações como articulação e organização sobre a questão dos clãs, em vista da realização de um congresso sobre os clãs, entre os dias 1º e 5 de junho de 2020.
Percebemos que as identidades culturais, suas tradições estão se perdendo. Por isso o grupo NIPAX pensou em realizar o I Congresso do Povo Xerente, cujo objetivo primeiro é uma reorganização interna dos xerentes como povo Akwẽ, a fim de que possam reunir-se em clãs e tomarem algumas decisões importantes para a preservação de suas culturas. Acredito que será um momento de conscientização, comprometimento e de um despertar para se firmarem como um povo. Será de grande importância principalmente para os jovens xerentes.
A minha presença como missionária serva do Espírito Santo inserida na realidade xerente é de uma partilha na vida das aldeias; de luta ao lado deles, de incentivo nos trabalhos para o autossustento. No momento atual, estou comprometida em apoiá-los, dando o meu testemunho de consagrada, que acredita na vida e que devemos cuidar dela e preservá-la, ainda mais dentro de um território onde a vida sofre constantes ameaças, por pressões externas, como o agronegócio (com os desmatamentos e agrotóxicos), os grandes projetos hidroelétricos com os impactos ambientais e outros.
Para isso incentivamos as comunidades no plantio das roças de mandiocas e de grãos, pois, além de não faltar o alimento, terão como contribuir na alimentação nos dias do congresso. Entre um trabalho e outro, participo de algumas aulas da língua xerente, ministrada pelo professor Nelson Praze Xerente, membro também do NIPAX. O aprendizado do idioma será importante para a interação com todos da comunidade Akwẽ Xerente.
Espero que, ao término do congresso, os indígenas estejam mais fortalecidos e conscientes com relação à identidade e sua autonomia como povo Akwẽ Xerente, para construírem juntos sua história de vida.
Participar desse processo de preparação do congresso está sendo para mim um aprofundar no aprendizado da cultura e do modo de vida do povo Akwẽ bem como experienciar o quanto está sendo importante acolher e valorizar cada expressão de vida nas aldeias visitadas, e também poder partilhar com eles a alegria, a fé, a minha entrega amorosa a Cristo entre os xerentes. Por isso destaco Aquele que nos trouxe a vida, a causa de nossa missão: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Irmã Maria Leonice Neves é missionária serva do Espírito Santo, pós-graduada em Pedagogia Social com o tema “A atuação das mulheres indígenas xerentes na sua cultura”.