Previsões do tempo…

Qual a previsão do tempo para hoje? Ensolarado? Nublado? Com ameaças de temporais? São alternativas que o tempo apresenta no decorrer dos dias. Seja qual for a previsão, não podemos esquecer que, sempre, acima das nuvens, permanece o “Sol” que ilumina o universo e nunca o deixa de iluminar.

Nos dias ensolarados, o céu fica azul, bonito, muitos se queixam de calor, mas nem todos os dias assim são calorentos. Há aqueles deliciosos para se viver num clima agradável, o qual gostaríamos que assim fosse sempre. Há dias em que só uma parte do céu está ensolarada e o restante nublado; qual vai prevalecer?

Nos dias nublados, surge a dúvida ao sair de casa: levar guarda-chuva ou não? Pode chover e atrapalhar as idas e vindas. Nessa situação, é necessário conviver com a incerteza até que as nuvens definam o que vão fazer, se vão se dispersar ou chover.

Nos dias com ameaças de temporais, o grau de incerteza aumenta, e as preocupações também, porque podem ocorrer a qualquer hora e despencar fortemente numa dada região, fazendo estragos de pôr em risco a vida ou tirar seus confortos. A situação pode ficar mais dramática conforme as evidências começam a se confirmar. Os trovões e relâmpagos correm pelo céu, dando sustos com raios que caem troando com força. Quando isso acontece, não sobram muitas alternativas a não ser aquelas de minimizar os prejuízos com algumas providências possíveis. Refugiar-se em lugar mais seguro, torcer para que a ventania e a tempestade passem logo e não causem tanto estrago. Fica tudo meio imprevisível. Não dá para controlar tudo. Se a tempestade começar a durar muito, avolumam-se os prejuízos e também os descontroles sobre a situação. O caos vai se agravando, e o desespero tomando conta.

A experiência diz que, mesmo que demorem um pouco mais que o desejável, a tempestade não vai se eternizar. Uma hora, ela passa. Mesmo se apresentando com toda essa fúria, o tempo vai se acalmar e voltar a seu normal. Assim são as “previsões do tempo”. A esperança de dias ensolarados deve permanecer, mesmo quando há tempestade.

Nossa vida “vivida no tempo” pode ser comparada a essas oscilações temporais, guardando-se as proporções. Sabemos que há dias mais amenos e outros mais turbulentos. Parafraseando as previsões do tempo, façamos uma “viagem” nos “tempos favoráveis e intempéries” de nossa vida.

Há dias, por exemplo, em que amanhecemos radiantes, otimistas, com horizontes claros, sabendo o que queremos e que rumos seguir. Tudo parece concorrer para nossa alegria e felicidade. Vivemos o encanto pela vida que está favorável e tudo contribuindo para a realização de nossos sonhos. Gostaríamos que fosse sempre assim e aí não precisaríamos lidar com angústias, frustrações, dissabores, preocupações com sobrevivência, e assim a vida pareceria sempre uma poesia de encantos mil. É verdade! Há momentos que são assim; que pena, constatamos, que não o sejam sempre! Precisamos nos habituar também com as turbulências.

Vivenciamos dias nublados, em que a mente e o coração amanhecem com uma série de dúvidas e preocupações que se antecipam e começam a estressar. São queixas que aparecem porque não se vai dar conta de tudo o que há por fazer, porque o cansaço se apoderou, minando as forças que havia de reserva. Alguém ficou doente na família e precisa de cuidados; alguém está passando por uma crise de relacionamentos e fica nervoso, contagiando o ambiente que antes estava tranquilo; ou alguém que perdeu o emprego, e o futuro fica comprometido, gerando insegurança. Ou ainda, alguém foi mal nos negócios que fez e teve prejuízo, e comprometeu sua renda; outro ainda exagerou no cartão de crédito e ficou sem fundos para pagar as prestações; alguém esperava solidariedade e compreensão, e elas não vieram, deixando uma mágoa no coração e uma decepção que mina a confiança nas pessoas. Não bastasse isso o carro precisa de conserto, a máquina de lavar roupa enguiçou, o cano de água estourou, a entrega do material para reparos atrasou, o gato fugiu e o cachorrinho ficou doente, precisa de veterinário. A pessoa que prometeu que viria não veio, deixou na mão; a notícia do telejornal fala dos aumentos que virão sobre combustíveis e alimentos, a inflação vai diminuir o poder de compra, além de lembrar que o “ômicron” está se alastrando como ventania; as mensagens no grupo do WhatsApp, querendo ajudar, oferecem milagres desde que se façam alguns ritos, mas eles demoram para acontecer e, para piorar a situação, ainda é preciso lidar com as “fake news”. Além disso, precisa levar a criança para a escola e depois buscá-la, calcular direito o tempo para não chegar atrasado ao serviço, não se esquecer de fazer um “pix” para pagar as contas, recarregar o celular… Tanta coisa por fazer! E a novela já vai começar, quero assistir o “Big Brother”, mas vai ficar tarde para dormir, a insônia não me deixa descansar direito, o remédio não está fazendo efeito… Tudo isso vai dando nó na cabeça. Quando as coisas vão caminhando assim, o dia, que estava meio ensolarado, começa a ceder espaço às nuvens pesadas, um céu se fechando, ameaçando temporal.

Há os dias de tempestades iminentes. O acúmulo de situações e desgastes emocionais se avolumam que o psíquico não consegue dar conta de processar tudo. A mente começa a ficar confusa, o ânimo vai diminuindo, e as esperanças também. Uma crise aparece ameaçadora no horizonte, e a vida vai se espremendo nas poucas brechas que ficam. Nessa situação, pode desabar a torrente incontrolada de emoções contidas a longo tempo e sentimentos se apoderarem, tirando o chão da vida, e a pessoa fica “fora da casinha”, entrando em estado de depressão ou outras manifestações doentias da psique. Nessa situação o “céu desabou” sobre ela, e ela perde o controle sobre si mesma, precisando de socorro urgente, alguém que a tire dessa situação. Nem sempre esse “resgate” obtém sucesso. Muitos sucumbem, tirando a própria vida antes. São as situações limítrofes que atingem um bom número de pessoas, embora longe de alcançar a maioria.

Ainda bem, como diz o ditado, “depois da tempestade, vem a bonança!”. A vida não é só tragédia, a experiência deveria nos orientar nas horas difíceis, lembrando que os problemas não são nossa identidade. Somos maiores que eles e nascemos antes, por isso temos ascendência sobre eles. Não podemos confundir nossos problemas conosco, sempre somos pessoas dignas que têm o próprio valor, independentemente dos problemas que possam nos afligir ou ameaçar. Os dias ensolarados nos lembram de que o céu não é sempre cheio de nuvens ameaçadoras e, para além das nuvens, há o céu que nunca fica cinzento nem escuro, porque lá está a verdadeira claridade que precisa iluminar sempre nossa vida, mesmo nos dias nublados. Manter-se antenado no “Sol” que sempre brilha dá a certeza de que os dias escuros passam e a bonança retorna, e a vida pode prosseguir em novos dias ensolarados.

Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.
S

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *