Aqui em Minas Gerais, a gente nasce e cresce embalada por esta convicção, escrita por Beto Guedes e Ronaldo Bastos, e cantada por Milton Nascimento: “Tudo que move é sagrado…”.
O imperceptível se faz mistério e poesia.
Algumas pessoas vivem o divino mistério cotidiano de conviver com pássaros a cantarolar, gatos pelos telhados, frutas no pé, flores no caminho, sol batendo à porta, água limpa da mina, lua iluminando o caminho, comida sem agrotóxicos à mesa, chuva que faz germinar, abelhas, joaninhas, hortas, pomares, criações de animais, compotas, colheitas, plantios, fogão a lenha…
Para essas pessoas, a primavera chega sem avisar, sem fazer alarde; devagarzinho, vai dando sinais de que o inverno está indo embora.
É um movimento sagrado, como nos canta Milton, esse carioca que se fez mineiro.
Na cena urbana, essa cadência de mudança de estação salta aos olhos só de quem se deixa contagiar pelos pequenos sinais espalhados pelo caminho.
Flores caídas no chão… Dias mais claros para quem madruga… Ventos e chuva anunciando a mudança da estação…
Feito mistério e poesia, brota uma calmaria para os que se deixam abraçar pelos ipês-amarelos, e nosso coração se alegra ao ouvirmos a cantoria dos pássaros.
O dom da espiritualidade nos enche de fé, mas a magia da natureza nos aproxima de Deus, do divino.
A primavera profetiza, anuncia que é possível renovar a vida, fazer novas moradas, construir ninhos, reproduzir, buscar florescer em qualquer lugar, em qualquer circunstância.
Feito profecia, a primavera anuncia tempos mais amenos e férteis.
Primavera também é efervescência, ruptura e transformação ao longo da história.
Esta estação que vem nos anunciar que outros verões virão está magistralmente a serviço do que virá, explodindo em cores, sabores, biodiversidade, polinização e fertilidade.
É tempo de reconhecer luzes e sombras em nossas vidas, como nos ensina o equinócio da primavera.
Tempo de transformar o que precisa ser transformado, de abandonar o que vem nos fazendo mal, de aprofundar raízes, de expandir, de florir, de colorir nossos caminhos.
Ande descalço…
Nade num rio…
Colha frutas…
Beba água fresca…
Passeie numa praça…
Visite um parque…
Leve flores para uma pessoa que anda sumida…
Plante árvores…
Primaverize-se!
Em tempo: vote pensando no que queremos (vi)ver no verão que virá!
Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte-MG, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.