A pandemia de covid-19 (hoje mais denominada “sindemia”, devido à interação e impacto em todas as áreas da sociedade, segundo a Fiocruz) exigiu novas ações missionárias, principalmente em apoio às mulheres e homens “invisíveis” aos olhos da dinâmica capitalista.
Após identificar esse cenário no entorno da comunidade, as irmãs servas do Espírito Santo (SSpS) da comunidade Cohab Adventista, em São Paulo-SP, propuseram uma ação de acolhimento às mulheres no período pós-pandemia. A ideia foi imediatamente acolhida pelo casal Joana Félix e José Martin, que se colocaram à disposição para partilhar seus conhecimentos humanos, pedagógicos e artísticos. Assim nasceu o Projeto Troca de Saberes.
Irmã Martina conta que o projeto é desenvolvido há mais de um ano, e o objetivo é “conviver, acolher, aprender a fazer em conjunto as coisas, celebrar, rezar, sorrir, dançar e construir relações, além das atividades práticas”. O projeto acolhe desempregadas, aposentadas, educadoras populares, estudantes. Alguns homens também foram recebidos.
Segundo Joana, pedagoga e educadora popular, algumas ações foram amadurecendo até chegar ao que fazem no momento. “Em 2022, começamos a fazer toucas de crochê. Quem não sabia, aprendia. Confeccionamos muitas toucas, que foram doadas para pessoas em situação de rua. Foi um trabalho muito bonito e participativo”, relata.
A iniciativa não tem por objetivo confeccionar e vender artesanato, mas faz parte em meio ao convívio alegre, de cuidado e fraterno das mulheres, o que fortalece a troca de saberes. “Ganhamos de apoiadores anônimos o material necessário. Emprestamos algumas máquinas de costura. Hoje, o trabalho flui muito bem. Quem sabe costurar, bodar, fazer vagonite e biquinhos no pano de prato ensina às outras. Novos artesanatos estão programados: mantas, bolsas, mandalas, fuxicos, tapetes, uso de retalhos”, conta Joana.
O resultado da primeira oficina foi apresentado no dia 1º de maio de 2022, no espaço da Associação Povo em Ação Olímpio da Silva Matos. A presidenta, Edna Matos, reconhece que o Troca de Saberesresgata o Clube de Mães das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). “Ao mesmo tempo em que as mulheres partilham a vida difícil e aprendem artesanatos, também despertam e reivindicam os direitos de políticas públicas”, explica.
O Troca de Saberesé aberto a todos, sem se preocupar com gênero, idade, opção religiosa e formação. Algumas mulheres são acompanhadas por José Martin, que procura desenvolver habilidades de concentração e coordenação motora em um grupo de participantes, com pintura de mandalas para confecção de bolsas ecológicas de algodão cru. Um trabalho feito a muitas mãos, com excelentes resultados. Desde que as SSpS perceberam que as consequências da covid-19 deixaram pessoas desanimadas, com baixa autoestima, com crises familiares, foram impulsionadas a querer ajudar na recuperação da força, da fé e da esperança da população local. Objetivo confirmado pelas participantes.
“Sou evangélica, casada, com dois filhos. Sou voluntária e me sinto maravilhosa, acolhida por todas. Eu adoro dar aula de bordado. Estou aqui desde 2022” (Elisabete Alves dos Santos).
“Participo há dois meses. Toda terça-feira, é uma verdadeira terapia. Amo, sou acolhida; são minhas irmãs. Estamos aqui para aprender e ensinar. Estou aprendendo fuxico e fechando mantas, com a ajuda de outras mulheres” (Luciana Maria da Silva).
“Fui para a inscrição de moradia na Associação Povo em Ação e aí fiquei sabendo do Troca de Saberes. Conheci e gostei. Agora que me aposentei, estou aqui aprendendo crochê, além de estar estudando. Eu amo este espaço” (Maria José da Conceição).
“Fui para a inscrição de moradia na Associação Povo em Ação e aí fiquei sabendo do Troca de Saberes. Conheci e gostei. Agora que me aposentei, estou aqui aprendendo crochê, além de estar estudando. Eu amo este espaço” (Maria José da Conceição).
O Projeto Troca de Saberes define um cronograma de produção dos artesanatos que não interfere nos momentos de diálogo, escuta ativa, meditação, oração, dança e partilha de lanche no fim dos encontros.
Miriam Bernadete de Souza
Leiga missionária