Quaresma: tempo de retomar a vida de fé e a comunhão fraterna

“Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).

Iniciamos a Quaresma com a celebração da imposição das cinzas. Este tempo tem como fundamento três atitudes: jejum, caridade e oração. Gestos que geram em nós a conversão e nos preparam para vivenciar o grande mistério da nossa fé, a ressurreição de Jesus Cristo.

A Quaresma, nos primeiros séculos do cristianismo, era um tempo decisivo para aqueles que aspiravam aos sacramentos da iniciação cristã, na Vigília Pascal. Os candidatos, eleitos no primeiro domingo da Quaresma, deveriam, durante os quarenta dias, intensificar sua vida de oração e vivência cristã na comunidade, para poderem receber o grande dom da salvação, na noite santa da Vigília da Páscoa, ressurreição do Senhor.

Com o passar do tempo, a fé cristã começou a tornar-se conhecida e anunciada, de geração em geração, e esse tempo, dedicado em especial aos catecúmenos, tornou-se uma prática quaresmal para todos os fiéis batizados em preparação à grande celebração do mistério Pascal.

Em um mundo cada vez mais secularizado e midiático, a vivência da Quaresma se torna cada vez mais desafiadora para os cristãos. As palavras ditas na imposição das cinzas, “Convertei-vos e crede no Evangelho”, ganham um peso cada vez maior e suscitam em nós um questionamento: estamos realmente nos convertendo ou apenas cumprindo um preceito? Podemos citar, por exemplo, escolher um tipo de jejum e sair anunciando para outros, em contraposição ao que nos pede o Evangelho, “Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles” (Mt 6,1a). Qual tipo de jejum facilita viver a caridade cristã?

A proposta da Igreja para a Quaresma (jejum, caridade e oração) tem seu objetivo alcançado quando conseguimos unir as três palavras e torná-las vivas no nosso cotidiano; do contrário, tornam-se apenas palavras. 

O Papa Francisco, no documento Misericordiae vultus, fala-nos que o amor “por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias… Tal como o Pai ama, assim também amam seus filhos. Tal como ele é misericordioso, assim somos chamados, também nós, a sermos misericordiosos uns para com os outros” (n. 9). O jejum e a oração são traduzidos em ações e atitudes de caridade, de misericórdia.

Quando conseguimos unir as renúncias (jejum) e o diálogo com Deus (oração), a prática da misericórdia (caridade) acontece em nosso dia a dia, principalmente com aqueles que estão mais próximos e, ou, com as pessoas mais vulneráveis. Muitas vezes, pensamos que temos de realizar grandes obras, porém as pequenas atitudes com relação ao próximo que necessita de nosso auxílio são mais simples, e conseguimos progredir na vida cristã de fé e na caridade. Importam os pequenos passos e que sejam constantes em nossa caminhada cristã. 

A pessoa conectada com Deus e consigo mesma não precisará de grande esforço para testemunhar a misericórdia do Pai nas ações em relação ao próximo. Agirá conforme o desejo de Deus, que tudo vê. Nessa caminhada de conversão, peçamos ao Espírito Santo que nos ensine a perceber e acolher a vontade do Pai, e sejamos misericordiosos. Paz e bem!

José Renato da Luz

Leigo, membro da Animação Bíblico-Catequética da Diocese de Ponta Grossa-PR e corretor de seguros.

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