Relatório da ONU aponta ação humana no problema do aquecimento global e traz alerta vermelho

Nas últimas décadas, a comunidade científica já previa o aumento de eventos climáticos extremos, como fortes alagamentos, tempestades, furacões e tornados, secas prolongadas e grandes ondas de calor extremo. Por muitos anos, ainda se acreditava que a questão do aquecimento global poderia se tratar de um fenômeno cíclico e natural, ainda que fosse agravado pela ação humana. Contudo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 9 de agosto, afirma serem inquestionáveis os impactos provocados pelo ser humano nas mudanças climáticas na Terra e não há alternativa senão a redução dos gases que provocam o aumento do efeito estufa e, consequentemente, o aquecimento da atmosfera, dos oceanos e do solo.

O IPCC é um órgão da ONU, criado em 1988, para investigar a ciência em torno das mudanças climáticas. O grupo analisa e sintetiza publicações e documentos, e repassa para os governos informações científicas que possam embasar políticas sobre o aquecimento global.

Com quase mil páginas de extensão, o último relatório do IPCC foi elaborado com a participação de 234 especialistas de mais de 60 países. O documento tem como base revisões e avaliações científicas de mais de 14 mil artigos e estudos já publicados. Desde 1998, já foram realizados cinco grandes relatórios que revisaram estudos científicos sobre o clima e alertaram o mundo sobre a crise climática. Esta, contudo, é a primeira vez que o relatório quantifica a responsabilidade das ações humanas no aumento da temperatura no planeta.

A conclusão do último documento faz soar os alarmes sobre as energias fósseis que “destroem o planeta”, e pode ser considerado um “alerta vermelho”. A afirmação foi feita pelo secretário-geral da ONU, António Guterres.

O estudo divulgado adverte que a atividade humana está mudando o clima do planeta de maneira improcedente e que, em alguns casos, essas mudanças já provocam problemas irreversíveis, como aumento contínuo do nível do mar. “Os alarmes de emergência estão soando, e a evidência é irrefutável”, disse Guterres, assim que o relatório foi liberado. O secretário-geral também relatou que o teto estabelecido no Acordo de Paris, que limita o aumento médio das temperaturas globais em até 1,5 ºC acima dos níveis pré-industriais, está “perigosamente próximo”.

O relatório aponta que a temperatura da superfície global aumentou em um ritmo mais acelerado desde 1970 do que em qualquer outro período de 50 anos em pelo menos 2 mil anos. Afirma também que esse fato tem uma relação direta com o crescimento de problemas ambientais de ordem atmosférica.

Os principais fatores humanos das mudanças climáticas são o aumento nas concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa e de aerossóis da queima de combustíveis fósseis não renováveis. Segundo o documento, para cada meio grau a mais na temperatura do planeta, serão provocados novos aumentos na intensidade e na frequência de extremos de calor e fortes precipitações, assim como das secas prolongadas em algumas regiões. As geleiras montanhosas e polares continuarão derretendo por décadas ou séculos. Mudanças nas águas oceânicas também estão descritas, como ondas de calor marítimo mais frequentes, acidificação das águas, redução dos níveis de oxigênio.

Embora as projeções de aquecimento sejam claras no relatório e que muitos impactos não possam ser revertidos, o documento também deixa claro que a única forma de retroceder o aquecimento do planeta e suas possíveis consequências consiste na redução das emissões de gases de efeito estufa pela metade até 2030 e na eliminação total das emissões líquidas até a metade deste século, pelo uso de tecnologias limpas e, pelo plantio de árvores, a captura e absorção de carbono. Os cientistas esperam que o relatório pressione os governos a aplicarem as políticas necessárias.

Especialistas do IPCC deixam claro que há possibilidade de um planeta melhor para todos se o mundo responder à crise com solidariedade e coragem. É preciso economias mais sustentáveis, inclusivas e verdes, com mais justiça social, eficiência no uso de recursos naturais, com consumo consciente, de baixo carbono, entre outras medidas que ajudem a valorizar o meio ambiente.

Fernando Carlos Miranda
Professor de Geografia e Atualidades, coordenador pedagógico do ensino médio no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte-MG.

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