Religião não se discute?

“Você acredita em Deus?” Essa é uma pergunta comum em escola ou mesmo em rodas e redes sociais. “Não aponte o dedo para a estrela”, acreditam alguns. Tem gente que se benze quando passa diante de um cemitério ou de uma igreja, e até um despacho na curva de uma esquina, às vezes, é motivo de medo ou desprezo. Enfim, qual é sua religião? Ou você é agnóstico? As pessoas que creem deveriam ser mais tolerantes e testemunhas da justiça e da paz, mas, infelizmente, não é sempre assim.

Há muitos estudiosos que afirmam que a maioria das guerras que ocorreram no mundo (e ainda acontecem) têm motivos religiosos. Até hoje, existe quem profana algo sagrado de uma religião, o que é um desrespeito e crime. Isso tem causado julgamentos e terrorismo entre nações.

Há um ditado que diz que “futebol, política e religião não se discutem”, o que não é verdade. Já faz tempo que religião tem sido uma discussão mundial para educarmos nosso bom senso, a ponto de termos 21 de janeiro como Dia Mundial da Religião. Essa data foi criada em dezembro de 1949, em uma Assembleia Espiritual Nacional dos Bahá’ís, com o objetivo de promover o respeito, a tolerância e o diálogo entre as diversas religiões existentes no mundo.

Após as Guerras Mundiais, a Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou, em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Entre os 30 artigos, o de número 18 estabelece:

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.

O Brasil, por ser um Estado republicano e democrático, também é um Estado laico, isto é, um país onde toda crença deve ser respeitada, inclusive quem professa ser ateu. Conforme a Constituição Federal de 1988, art. 5º, “É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias”. Assim, todos podem manifestar sua religiosidade dentro dos limites do respeito e da fraternidade, pois o importante é que todos promovam a paz.

Por que ainda há casos de preconceito religioso em nossa sociedade? Por que há disputa por adeptos entre as igrejas? Jesus disse que “Na casa de meu Pai, há muitas moradas” (Jo 14,2). E por que há pessoas que menosprezam aqueles grupos religiosos menores, de influência africana ou indígena? Jesus, um dia, afirmou à Samaritana que “Os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade” (Jo 4,5-42).

Sabemos que a experiência mística é algo subjetivo. Somente na intimidade do ser, pode-se expressar a vivência transcendental. Muitas figuras bíblicas, como Moisés, José do Egito, profetas, José da Galileia, testemunharam a presença divina em suas vidas. O mesmo ocorreu e ocorre com homens e mulheres em tempos contemporâneos. Assim, não nos cabe julgar a revelação intrínseca daquele que crê. No entanto, a melhor maneira de combater a intolerância religiosa é com a prática do bem, observada pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804), ao escrever sua obra Crítica da razão prática.

A data 21 de janeiro é também o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Foi instituído pela Lei n.º 11.635/2007, para que possamos viver fraternalmente em sociedade, promovendo, assim, a empatia, estudos sobre a diversidade religiosa e a paz entre todos aqueles que creem.

Atos ecumênicos são uma boa forma de expressar o respeito pelo outro, de unir adeptos de diferentes credos e doutrinas, palestras, orações em comum. Independentemente da crença, somos todos seres humanos que necessitam melhorar nossas relações interpessoais.
Pense nisso!

Maria Terezinha Corrêa
Mestra em Antropologia, especialista em Ensino de Filosofia, graduada em Filosofia e Pedagogia, cursou Teologia pelo Mater Ecclesiae, filiada à ABA, APEOESP e SBPC, atualmente professora de Filosofia na Prefeitura de São José-SC, membro da Comissão de Prevenção e combate à tortura pela ALESC, voluntária na Pastoral da Pessoa Idosa, pertencente à Arquidiocese de Florianópolis-SC.