Roraima: irmãs SSpS relatam como foi a 52ª Assembleia-Geral dos Povos Indígenas

“Onde uma ou mais SSpS estiverem reunidas, aí estarão as SSpS do mundo inteiro”

Foi com esse sentimento de pertença à Congregação, que nós, irmãs Aurélia e Madalena, estivemos presentes na 52ª Assembleia-Geral dos Povos Indígenas de Roraima, realizada entre os dias 11 e 14 de março deste ano, no Centro Regional Lago Caracaranã, Terra Indígena Raposa Serra do Sol, tendo como tema “Proteção territorial, meio ambiente e sustentabilidade”. Para nós, missionárias servas do Espírito Santo (SSpS) atuando na missão aqui em Roraima, é de fundamental importância participar, ativa e integralmente, de todas as atividades e eventos dos povos indígenas, desde as instâncias comunitárias, regionais, estaduais e, quando possível, também a nacional.

A Assembleia contou com a participação dos povos Macuxi, Wapichana, Sapará, Taurepang, Patamona, Wai-Wai, Ye’kwana, Yanomami e Ingaricó. Também teve, como sempre, a presença dos parceiros e parceiras, entre eles, a Diocese de Roraima, a Pastoral Indigenista, o CIMI Regional e Nacional, e representantes de organizações indígenas (OMIR – Organização das Mulheres Indígenas de Roraima; OPIR – Organização dos Professores Indígenas de Roraima; APITSM – Associação dos Povos Indígenas da Terra São Marcos; Hutukara – Associação Yanomami e Ye’kwana; APIW – Associação dos Povos Indígenas Wai-Wai; Coping – Conselho dos Povos Indígenas Ingaricó; e CIR – Conselho Indígena de Roraima), totalizando mais de 2 mil pessoas. Participaram ainda a Funai Nacional e Estadual, e o Ministério Público Federal em Roraima.

Cada povo indígena teve a oportunidade de informar-se sobre suas atividades e planos de vida, bem como avaliar sua caminhada como organização diante dos cenários federal, estadual e municipal, durante os últimos quatro anos. Percebe-se que há vários pontos comuns entre as diferentes regiões, tais como a medicina tradicional, os PGTA (Planos de Gestão Territorial Ambiental) e a proteção territorial, por meio dos GPVTI (Grupo de Proteção e Vigilância Territorial Indígena).

As lideranças Yanomami ressaltaram a atual situação, cruel e desumana, pela qual estão passando, destacando a morte dos rios, das florestas, da terra e o grande número de mortes, especialmente de crianças. Disseram que é preciso salvar o Povo Yanomami, que passou pelo processo de extinção durante os últimos anos. A esperança deles é a atuação do atual governo, que instalou uma grande força-tarefa nacional para reverter essa situação de morte que se agravou com a liberação geral do garimpo e do desmatamento descontrolado. É consenso de todo o movimento indígena e de todos os movimentos sociais que sejam retirados todos os invasores, especialmente os garimpeiros que já causaram tantas tragédias à Mãe Terra.

Um momento muito forte e importante aconteceu no terceiro dia da assembleia, tendo como pauta principal a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado de Janja, primeira-dama, de alguns ministros e outras autoridades: José Múcio Monteiro (Defesa), Nísia Trindade (Saúde), Sônia Guajajara (Povos Originários), Márcio Macedo (Secretaria-Geral da Presidência), Paulo Pimenta (Secretaria de Comunicação Social), Ricardo Weibe Tapeba (Secretaria Especial de Saúde Indígena – Sesai), Joênia Wapixana (presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas). Foi a primeira vez que um presidente participou de uma Assembleia Indígena de Roraima.

Em seu discurso, o presidente reafirmou o compromisso de retirar todos os garimpeiros e invasores da Terra Indígena Yanomami e de todas as terras indígenas do Brasil. Ele ressaltou que apenas 14% do Brasil está ocupado por indígenas, sendo que 100% do território brasileiro já foi dos povos originários. Lula visitou e prestigiou também a feira agrícola realizada durante a 52ª Assembleia, onde ele pôde constatar a riqueza da produção 100% orgânica e sustentável. Ele se comprometeu em liberar investimentos para as produções dentro das terras indígenas.

Toda a segurança do presidente e da comitiva foi feita pelo Grupo de Proteção e Vigilância Territorial Indígena. O movimento indígena não aceitou o aparato de segurança oferecido pelo governo do Estado de Roraima. Pelas mãos de uma jovem e uma criança indígenas, foi entregue nas mãos do presidente uma carta com as demandas dos povos indígenas de Roraima, referentes à saúde, educação, medicina tradicional, proteção territorial, retirada de garimpeiros, valorização da cultura, tradição, território e sustentabilidade indígena.

Outro momento marcante da Assembleia foi a tomada de posse simbólica do novo coordenador do Distrito Sanitário Leste, órgão que até então sempre esteve nas mãos de apadrinhados de grupos políticos do Estado. Desta vez, foi o próprio movimento indígena que indicou Zelandes Patamona como primeiro coordenador indígena do DSEI Leste. Outra vitória foi a posse simbólica de Marizete de Souza Macuxi como coordenadora da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai-RR), cargo que também sempre esteve nas mãos de apadrinhados políticos.

Para nós, missionárias servas do Espírito Santo, participar da Assembleia-Geral dos Povos Indígenas de Roraima constitui um momento forte de aprendizado, experiências, parceria, espiritualidade e fortalecimento na opção pela causa indígena, que é de todas nós. A luta continua, unidas venceremos! Sangue indígena, nenhuma gota a mais! Povo unido jamais será vencido! Diga ao povo que avance, avançaremos! Se Deus é por nós, quem será contra nós? Demarcação já!

Irmãs Aurélia Prihodová e Maria Madalena Hoffmann
Missionárias servas do Espírito Santo, Alto Alegre-RR

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