Em 26 de maio de 1914, nasceu o “Anjo Bom da Bahia”, batizada como Maria Rita de Souza Brito Lopes, mais tarde irmã Dulce. Desde cedo, já dava mostras de seu grande amor por Jesus que se revela sobretudo nos marginalizados, excluídos pela sociedade, pois os abrigava e deles cuidava em sua própria casa.
Ao encontrar no irmão o rosto do “Cristo sofredor”, ela viveu plenamente o Evangelho em sua plenitude, dedicando sua vida à causa dos pequeninos do Senhor. Para isso, irmã Dulce erigiu escolas, hospitais, asilos. Conta-se que até um galinheiro antigo ela o transformou, por seu amor a Jesus que tudo transforma e renova, em um hospital para atender os desvalidos da sociedade.
O amor a Jesus é capaz de mudar muitas realidades. Para isso, contudo, é necessário viver a misericórdia com o outro, e isso se faz no contato com o outro, compadecer-se da dor do outro, sentir junto, ser o próximo do outro; talvez o único evangelho, o evangelho vivo, que alguém possa ter contato…
O Papa São João Paulo II recordava o dito “as palavras convencem, mas os exemplos arrastam”. Isso significa que um gesto vale mais que mil palavras. Precisamos acolher mais, sermos mais humanos, menos individualistas, olhar para a dor do outro, ter empatia. Isso vale mais do que mil discursos teóricos…
Santa Dulce dos Pobres, como é chamada, é um sinal que indica o caminho seguro para Deus: o próximo. Que seu exemplo de vida e missão inspire nossa sociedade de hoje, cada vez mais materialista e apressada, individualista e competitiva, para que possamos viver o que o Evangelho ensina.
Como diz o Papa Francisco, precisamos de mais santos nos dias de hoje, pessoas que ajam com misericórdia e sejam portadoras da “alegria do Evangelho”, Evangelho que, além de ser anunciado, é preciso ser vivido. Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!
Diácono Luciano Ferreira Silva
Diocese de Ponta Grossa-PR.
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O serviço da caridade
“A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros” (Papa Bento XVI, Encíclica Deus caritas est, 25).
A caridade é um dever do cristão, uma ação que expressa a experiência da solidariedade em relação ao outro que se encontra impossibilitado de garantir sua condição mínima de sobrevivência e, sobretudo, sua dignidade humana.
Muitas pessoas confundem o significado de assistencialismo e caridade, utilizando-as por vezes como sinônimos. Assistencialismo: consiste no conjunto de ações em prol do outro, porém não se preocupa com a erradicação das causas sociais. Como doutrina, defende que não há nada a fazer para resolver os problemas, age somente em ações paliativas, ou seja, no efeito. Caridade: a caridade, por sua vez, identifica-se com o amor de Deus, portanto fazer caridade é ter as mesmas atitudes, as mesmas ações que Deus teria diante da miséria e pobreza. É a prática do Evangelho.
O amor a Deus jamais vem desvinculado do amor ao próximo. Não é somente um sentimento de querer bem as pessoas. O amor cristão se manifesta em gestos e atitudes que promovem o bem e a felicidade do outro. Não se pode imaginar um seguidor de Jesus que não se revista dos gestos de amor e de caridade, marcas da vida do Mestre no meio de nós. Ele amou os pobres e os pecadores, acolheu quem era marginalizado pela sociedade da época. Cristo fez-se amigo dos excluídos e cuidou dos famintos. A caridade do Mestre Jesus era presente em cada uma de suas atitudes e ações de promoção da vida e da dignidade da pessoa humana.
As obras de caridade estão presentes na Igreja Católica, desde sua fundação. Um exemplo foi o surgimento do diaconato. Para que os apóstolos se dedicassem integralmente à pregação, criou-se a função diaconal para suprir a necessidade de servir as pessoas mais necessitadas da época: as viúvas e os órfãos (cf. Atos dos Apóstolos 6,1-7).
Os santos também foram aqueles que dedicaram suas vidas em prol da caridade, como Santa Dulce dos Pobres, Santa Tereza de Calcutá, São Vicente de Paulo, e milhares de outros santos e beatos da Igreja.
As pastorais sociais em conjunto com as Cáritas diocesanas são a expressão da caridade e da solicitude da Igreja com as situações nas quais a vida está ameaçada. São atividades pelas quais a Igreja realiza a sua missão de continuar a ação de Jesus Cristo junto a diferentes grupos e realidades.
No capítulo 25, versículos 31 a 46, de São Mateus, encontramos o texto conhecido como a “parábola do juízo final”. Para nós, cristãos, deve ser, acima de tudo, assumir a causa dos que mais precisam. Essa foi a escolha de Deus, essa foi a causa nobre de Jesus, que decidirá a participação ou não participação do Reino. A bondade gratuita revela-se quando a gente se dedica aos que não podem retribuir. É na doação ao “último dos filhos de Deus”, o faminto, que damos provas de uma misericórdia evangélica e divina. Façamos da caridade um estilo de vida, uma regra de ouro.
Diácono Joanir Oliveira
Diocese de Ponta Grossa-PR.