Neste domingo, 27 de outubro, concluiu-se um dos mais importantes eventos do pontificado do Papa Francisco, no que se refere à América Latina. O Sínodo da Amazônia reuniu no Vaticano centenas de pessoas, entre eles representantes de povos nativos dos nove países que compõem a Pan-Amazônia, missionários e missionárias leigos e consagrados, padres e diáconos, e especialistas de diversas áreas.
Entre os convidados estava o padre José Boeing, missionário verbita que trabalha no Pará. Ele representou o superior-geral da Congregação, o Pe. Paulus Budi Kleden. Paranaense, o padre atua na Paróquia São José Operário, em Trairão-PA, e há 29 anos luta pelos direitos dos povos da floresta. Em entrevistas ao Vatican News, o religioso da Família Arnaldina apresenta suas impressões e expectativas quanto ao Sínodo.
Igreja feminina
Padre Boeing salienta que há um esforço grande para que os leigos sejam sujeitos da missão. “Faltam missionários, mas estamos aqui defendendo uma Igreja ministerial; quer dizer, não queremos somente consultar os leigos, mas que eles tenham o poder de decisão”, defende. Ele relata, por exemplo, que 70% das comunidades cristãs são guiadas por mulheres, sejam religiosas, sejam leigas. Por isso acha justo que o papel delas seja discutido mais profundamente no encontro.
Justiça eficiente
Também destacou a luta em favor dos direitos humanos. Ele denuncia que o Brasil propaga aos outros países uma criminalização dos movimentos sociais. “As pessoas que lutam são taxadas como inimigas do progresso, do capitalismo, portanto são perseguidos em suas comunidades, sejam líderes sindicais, das associações, inclusive da Igreja”, relata. O missionário defende que a Igreja também incentive que o Estado, por meio do Judiciário, possa julgar efetivamente os crimes.
“Nós temos uma impunidade na Amazônia. Não existe boletim de ocorrência, não tem processo. Por isso é fácil eliminar o outro, com interesses econômicos, políticos, sociais”, afirma. E continua: “Que não possamos nos calar diante dessa situação. Que nós sejamos solidários com quem está sendo ameaçado. A Igreja deve, sim, se posicionar e exigir que o Estado assegure o direito das pessoas”.
O próprio verbita, advogado e mestre em Direito, já recebeu ameaças de morte. Ele mantém o projeto “Agentes Comunitários de Justiça e Paz”, de incentivo à justiça restaurativa, para ele mais eficiente que a punitiva.
Diálogo
“Lá já estava o Espírito de Deus”, por isso o Pe. Boeing afirma que os evangelizadores precisam ter uma cuidadosa atitude de escuta, para compreenderem as culturas que eles encontram na Amazônia. “Por que não, na liturgia, falar de um rito amazônico? Respeitando, assim, as culturas e as tradições que lá existem”, propõe.
O religioso conta que os verbitas atuam na Região Amazônica desde 1980, com o compromisso de ser uma Igreja inculturada a serviço do povo. “O que a Congregação defende está sendo discutido aqui: diálogo intercongregacional, diálogo inter-religioso, com as culturas, defesa dos territórios, dos povos”, diz ao jornalista Silvonei José Protz, de quem o missionário foi colega no Seminário de Ponta Grossa-PR.
Diácono Alessandro Faleiro Marques
Diácono permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte, professor de Língua Portuguesa de aspirantes e verbitas estrangeiros na Província Brasil Norte, revisor de textos para as irmãs servas do Espírito Santo.