Já se foram mais de sete décadas, e essa “senhora” de 74 anos ainda tem muito o que nos ensinar.
E diria mais, segue inspirando, e seu conteúdo se torna cada vez mais atualizado e essencial.
Para encarar retrocessos por aqui e pelo mundo afora, nunca foi tão urgente revisitar a Declaração Universal dos Direitos Humanos, essa sábia “senhora”, nascida em 1948.
Eu destacaria seu artigo inicial:
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência, e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”
Uma mistura de liberdade, dignidade, igualdade, razão, consciência e fraternidade em defesa da vida.
Uma poderosa seta que indica caminhos e não permite atalhos nem arranjos que coloquem vidas em risco, que tem potência para reescrever nossa realidade mundial.
Sigo escrevendo, com a permissão de quem pretende destacar a liberdade de crença nesse cenário de retrocesso, trazendo a discussão de uma maneira simplificada e que possa implicar a muitos.
Agora, desatacaria o artigo 18 da Declaração:
“Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; esse direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença, e a liberdade de manifestar essa religião ou crença pelo ensino, pela prática, pelo culto em público ou em particular.”
Também trago para o diálogo a nossa jovem Constituição Federal de 1988, que, em seu artigo 5º, inciso VI, estabelece:
“É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias.”
Diante de fatos que se acumulam, faço coro à indignação do Papa Francisco: “Como é possível que hoje muitas minorias religiosas sejam discriminadas? Como permitimos que as pessoas sejam perseguidas simplesmente por professar publicamente sua fé?”.
Uma mistura de intolerância, discriminação, perseguição se opõe à liberdade de religião ou de crença, coloca em risco a coexistência pacífica e nos afasta da fraternidade.
Supondo que, numa dimensão transcendental, na rota da fé e da livre expressão religiosa, iríamos nos tornar mais fraternos e complacentes com as diferentes concepções e visões de mundo, o que se vê é a intolerância e a discriminação ganhando força.
Ao que parece, ao ferir a liberdade religiosa, colocamos em risco toda a humanidade e enfraquecemos os pilares da cultura de paz, da diversidade e da preservação da dignidade humana.
Há de se encontrar e alargar os campos de intercessão que existem entre as mais diversas expressões religiosas, de crença, de culto e de fé.
O que nos diferencia deve ser mediado pelo diálogo respeitoso e construtivo.
De mãos dadas com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, vamos seguir construindo pontes e estradas que levem ao caminho do diálogo, do respeito, da paz no mundo e da dignidade humana.
Como brasileiros, frutos da terra rica em diversidade de tradições e doutrinas, podemos mostrar ao mundo que andar com fé tem muitos caminhos.
Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte-MG, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.