Duas semanas depois do rompimento da barragem em Brumadinho-MG, a situação do local e das famílias das vítimas é desoladora. A Arquidiocese de Belo Horizonte, por meio da Paróquia de São Sebastião, em Brumadinho, está mobilizada para visitar as famílias e dar todo o apoio pastoral possível. Os dados oficiais registram, até o momento, 150 mortos e 182 desaparecidos, mas existe a suspeita de que há muito mais.
Uma de nossas missionárias, a irmã Francisca Romana da Costa, da Comunidade Madre Maria, em Belo Horizonte-MG, esteve com os agentes de pastoral e outras religiosas visitando as famílias. Ela dá seu depoimento sobre a situação que encontrou.
O que podemos fazer para que isso não aconteça mais?
“Ao me aproximar da cidade, já sentia algo que não dá para explicar. Um clima de desolação, de luto… Até a natureza demostrava algo estranho, como se, dentro da gente, a destruição tomasse conta. Não dá para explicar…
Ao chegar à Paróquia São Sebastião, de onde todos partem para as visitas, percebi que, apesar do clima de muita dor e desolação, a paróquia está bem organizada, e os agentes de pastorais e os jovens estão incansavelmente presentes a cada dia. Eles percorrem a cidade e visitam os afetados pela barragem. O espírito de solidariedade e de compaixão é forte em todos os lados.
Na Igreja, colocaram o Santíssimo exposto, oferecendo um momento forte de oração no qual os afetados encontram a força necessária para prosseguir. Nos velórios, os agentes de pastoral dão toda a assistência, com as orações das exéquias, consolando e dando forças às famílias neste momento cruel.
Visitei algumas famílias. Estas continuamente indagavam o porquê de tudo isso. Falaram que sempre comentavam sobre o perigo da barragem. Dessas famílias que visitei, algumas já sepultaram seus entes queridos, outras não. As que não encontraram os corpos estão mais desesperadas e sofridas pela tragédia. Elas querem e esperam pelo corpo. O tempo está passando e vai ficando cada vez mais difícil. As estatísticas que divulgam não correspondem ao que é, pois são muito mais desaparecidos.
É realmente uma tragédia enorme, que destruiu a vida humana de muitos e toda a natureza. Sabemos que o rio Paraopeba já não tem vida, e vai levando adiante mais e mais destruição. É devastador! Muito se fala, mas o que se faz é pouco. É impossível conter as consequências desses rejeitos, que já estão chegando ao Rio São Francisco.
Os nossos trabalhos de missão e como fazemos as visitas são sempre enriquecedores em nossa vida. Mas uma tragédia como esta mexe com tudo em nós. Ver a cidade toda num clima de tanta tristeza choca… Comove o coração e dá uma sensação de impotência diante de tudo isso.
Sabemos que a tragédia poderia ser evitada. Sabemos que as medidas de segurança e de fiscalização não foram tomadas… Pela ganância de alguns, muitas vidas se vão! O que podemos fazer para que isso não aconteça mais?
Brumadinho agora está sendo em parte assistida, mas o pior ainda está por vir. As consequências de saúde e os traumas psíquicos desta tragédia vão aparecer mais adiante. O efeito devastador destes rejeitos de minério vão prosseguir por quilômetros, destruindo a vida por longo tempo.”
Irmã Francisca Romana da Costa, SSpS – Enfermeira, estudou Teologia Pastoral, pós-graduanda em Direção Espiritual, atua como agente de pastoral e animadora vocacional.