Meninos vestidos com os adereços do Superman, Batman ou Homem-Aranha; festas de aniversários com a decoração dos super-heróis americanos; brinquedos e acessórios com os motivos desses agentes poderosos do imaginário infantil… Essas são situações que se tornaram muito comum no Brasil. A chegada desses heróis ao país é datada, e o sucesso destes supõe uma construção histórica. Cabe-nos perguntar o que está por trás dos personagens poderosos. Que consequências eles trazem para nossa cultura?
Para quem foi criança até a década de 1960, quando a tevê ainda era uma raridade e a maior parte da população vivia no campo, a infância teve outro sabor. As brincadeiras eram muito mais coletivas. A oralidade era a base para a transmissão das tradições, dos mitos, das lendas e das histórias que povoavam o imaginário das pessoas. Todo esse caldo cultural que era transmitido de geração em geração tinha elementos dos povos indígenas, africanos e portugueses, ou seja, das culturas raízes que formaram o nosso Brasil.
No entanto muita coisa mudou a partir da década de 1960. Com o êxodo rural, a popularização da televisão e, posteriormente, de outros eletrônicos, o tempo e o interesse pela tradição oral perdeu espaço para as histórias em quadrinhos e, depois, para os desenhos animados. É aí que os super-heróis americanos começaram a entrar em cena, suplantando os heróis das histórias nacionais.
Filósofos como Loeb e Morris afirmam que os heróis têm certo poder sobre nós, uma vez que eles nos apresentam algo a aspirar na vida. Estudos deixam claro que, durante todas as fases do desenvolvimento psicológico, esses personagens têm uma ação no inconsciente dos indivíduos. Randazzo diz que o herói masculino, “com sua ênfase sobre a independência, força e coragem, dominou a psique e a sensibilidade das culturas europeias”. O mesmo pode ser dito sobre as outras culturas patriarcais no Ocidente. Por outro lado, a figura do herói também é fruto de determinada conjuntura histórica e revela muito do sistema social, ou seja, os heróis não vieram apenas com a missão do entretenimento. Eles têm um reflexo no imaginário da sociedade, na sua cultura e na economia.
Sabemos que esse processo é irreversível, mas é importante que sejamos críticos e conscientes em relação àquilo que oferecemos às novas gerações. É nossa responsabilidade preservar e valorizar nossa herança cultural recebida dos povos indígenas, dos portugueses e dos africanos.
Irmã Stela Martins, SSpS – Graduanda em Ciências Sociais (PUC Rio) e Diretora Presidente da Redes – Rede de Solidariedade