O mês de agosto apresenta uma série de datas ambientais comemorativas. Entre elas, destacamos o aniversário do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) (dia 28), o Dia do Patrimônio Histórico Nacional (17), o Dia Nacional dos Direitos Humanos (12) e o Dia Internacional dos Povos Indígenas (9).
Por conta da convergência de temas deste mês, apresentamos o relato de uma experiência que deu visibilidade ao cotidiano indígena. A iniciativa foi uma ação conjunta entre a aldeia Ka’aguy Mirim Porã, localizada na Terra Indígena Tarumã, em Araquari-SC, e a Universidade da Região de Joinville (Univille). Trata-se da exposição fotográfica Ara Pyau, que, na língua guarani, significa “Tempo Novo”.
As fotografias foram produzidas na aldeia Ka’aguy Mirim Porã, com base em duas perspectivas: a indígena, pelo olhar de Mari Djachuka, importante liderança do Povo Guarani, que vive na aldeia Ka’aguy Mirim Porã; e a não indígena, pelo olhar de Miguel Cañas Martins, arquiteto e criativo, que frequenta a aldeia e convive com a comunidade indígena. A curadoria da exposição Ara Pyau ocorreu de forma coletiva e colaborativa. Contou com a participação de Alessandra Mansur, do campo do Design e do Patrimônio Cultural, e Cauê Boeing, do Design. A realização também recebeu suporte do Comitê de Educação em Direitos Humanos (CEDH) e de dois programas de pós-graduação: em Design e em Patrimônio Cultural e Sociedade.
O texto que acompanha a exposição, elaborado por Alessandra Mansur, e alguns registros fotográficos realizados por Mari Djachuka e Miguel Cañas Martins, são apresentados a seguir.
Ara Pyau – Tempo Novo
Para o Povo Guarani, o mês de agosto marca o início do Ara Pyau (Tempo Novo). Diferentemente dos não indígenas, essa data não é marcada por um único dia, mas por um longo período de seis meses. O Ara Pyau é uma celebração ancestral, em que se conta e canta o renascimento do corpo e do espírito.
É o tempo de renovação e de muitas atividades. É o momento de construir as casas, de fazer a roça e de plantar as sementes sagradas do Povo Guarani. É o tempo de consagração dos alimentos e batismo, tempo no qual as crianças guaranis recebem o “nome-alma” dado pelo Xeramõi (liderança espiritual). A concepção de tempo é percebida pelos guaranis em dois momentos: Tempo Novo e Tempo Antigo. No Ara Pyau (Tempo Novo), de agosto a janeiro, dedica-se ao trabalho. O Ara Ymã (Tempo Antigo), de fevereiro a julho, é o tempo do descanso físico e espiritual. No Ara Ymã, a natureza também descansa, perde as folhas, por isso os Guarani descansam junto com ela. A sabedoria guarani acompanha o ciclo da natureza.
A exposição Ara Pyau pretende aproximar a sociedade não indígena de alguns elementos do Tekoá Guarani (modo de ser e estar no mundo). Agricultura, Arquitetura, Educação Indígena, Espiritualidade e Corpo-Território são temáticas que perpassam essa exposição.
Os Guarani habitam o bioma Mata Atlântica, mais conhecido por eles como Nhe’ê ry (onde os espíritos se banham). Nhe’ê ry é uma floresta viva. Nela se encontram os remédios que curam, e nela estão os saberes e fazeres ancestrais.
É na floresta que reside a verdadeira escola! É na floresta que os conhecimentos são transformados na prática do bem-viver.
Por fim, é importante ressaltar que, embora a ONU (Organização das Nações Unidas) tenha “criado”, por decreto, o Dia Internacional dos Povos Indígenas, essa ação é resultado de muita luta, resistência e atuação de representantes dos mais diversos povos indígenas de todo o mundo.
Alessandra Mansur
Doutora em Patrimônio Cultural e Sociedade (Univille), mestra em Saúde e Meio Ambiente (Univille), especialista em Poéticas Contemporâneas no Ensino da Arte (UTP), graduada em Design de Produtos (Univille). Pesquisa na Literatura Indígena Contemporânea a Paisagem Cultural das Comunidades Indígenas, com ênfase no Patrimônio Ambiental e no Patrimônio Alimentar. Experiência com Projetos Interdisciplinares na área de Arte-Educação-Ambiental, Direitos Humanos, Meio Ambiente, Questões Étnico-Raciais, Responsabilidade Socioambiental.