Ter compaixão é um indicativo para quem tem o desejo de sintonizar-se com outro. A compaixão abre as portas para uma saída em direção ao coração de quem sofre e precisa de solidariedade. A palavra traduz, mais ou menos, o significado de pôr-se na pele do outro e sentir o que sua vida pede quando está em sofrimento. Para tanto, é necessário treinar-se na sensibilidade para perceber o que se passa na vida do outro. Em nós, existem duas tendências: uma de ficar encarcerado em si, pensando apenas nas próprias necessidades, indiferentes ao sofrimento alheio; e a outra tendência que se abre para o convívio solidário com o outro.
Jesus viveu a compaixão ao extremo. Ele treinou seus discípulos, muitas vezes, para serem compassivos. Por exemplo, quando eles queriam que Jesus dispersasse a multidão que foi até ele em busca de saúde e alívio dos sofrimentos. Jesus teve compaixão da multidão e disse aos discípulos: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Como? Só tinham cinco pães e dois peixes! Era tudo o que tinham de provisão para si próprios. Jesus lhes disse que colocassem à disposição aquela pequena reserva. Multiplicados os pães e os peixes, saciada a multidão e com sobras de sete cestos, a compaixão de Jesus se tornou gesto educativo. Os discípulos estavam no aprendizado de como serem compassivos.
A compaixão está associada à misericórdia; ambas se tornam um sinônimo de soerguimento do outro que está fragilizado. A compaixão aproxima, e a misericórdia compreende e salva. É uma fórmula concreta do amor ativo em ação. É uma linguagem compreensível para todos, porque visa, em primeiro lugar, a salvar a vida e a reconhece como dom acima de qualquer outro.
Ter compaixão é ser humano, lá onde a dor desumana está presente, debilitando as forças e ameaçando as resistências da sobrevivência. No fundo, todos, em algum momento da vida, precisam da compaixão de alguém. Ninguém se basta a si mesmo. Por isso a compaixão é tão natural que devia estar presente nas ações humanas, sempre! Contudo a experiência nos diz que não é assim. Como explicar que possa haver tanta gente, por exemplo, morrendo de fome? Cadê a compaixão? Se estivesse ativa, isso não aconteceria. Ela deve estar adormecida ou inebriada por outras coisas, deu lugar à indiferença e à insensibilidade, e assim essa força tão humana se torna tão desumana que não vê o outro necessitado, que fica ignorado em sua fome.
Todos aprovamos gestos compassivos porque eles mexem com a sensibilidade e nos aproximam uns dos outros, e resgatam em nós o desejo de fraternidade impresso em nossa alma. Nascemos para isso, pena que, frequentemente, adormecemos em relação a ela e ficamos absortos, olhando para o próprio umbigo, desviando o olhar dos que gritam por compaixão. Ter compaixão, eis um exercício altruísta para o Tempo da Quaresma e um treino para sermos mais humanos e solidários.
Pe. Deolino Pedro Baldissera, SDS
Padre salvatoriano há 43 anos, professor e psicólogo pela Universidade Gregoriana de Roma, com mestrado em Psicologia e doutorado em Ciências da Religião. Atualmente é pároco em Videira-SC.