O nome de batismo da irmã Veramaria era Maria Tereza Ribeiro Miranda. Ela fez os primeiros votos em 1953 e, após uma longa jornada de dedicação e serviço, partiu para a Casa do Pai no ano em que completava seu jubileu de 65 anos de consagração religiosa. Estava com 92 anos de idade.
Aqui apresentamos um pouco de sua história e uma síntese do depoimento de várias irmãs que conviveram mais de perto com ela. Sua vida é um testemunho de que vale a pena amar até o fim.
“Onde há amor e caridade, Deus aí está”
Para os pais, Joaquim e Alda, era Terezinha. Sexta filha de onze irmãos. Para os irmãos, Tereza. Tia Tereza para os sobrinhos, para os sobrinhos-netos e sobrinhos-bisnetos.
Em 1930, mudou-se com a família de sua cidade natal, Conceição do Mato Dentro, para Belo Horizonte. Iniciou sua vida escolar no Jardim de Infância Bueno Brandão. Depois, o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginásio no Colégio Sagrado Coração de Jesus. A escolha posterior pelo curso clássico sinalizava seu interesse pela formação humana. Nessa fase, já dava sinais de sua vocação para a vida religiosa. Assim, as irmãs do colégio ofereceram-lhe o curso superior de Letras na Faculdade Santa Maria.
Na infância e na adolescência, Tereza demonstrava sua opção por uma vida sem ambição e com a disposição para ajudar o próximo. Ao terminar seus estudos, manifestou aos pais seu desejo de seguir sua vocação. Seu pai, em sua sabedoria, aconselhou-a a trabalhar fora de casa, para que tivesse a oportunidade de conhecer as coisas do mundo. Foram dois anos dedicados ao trabalho e, ao fim do prazo acordado com os pais, em 1950, realizou seu desejo de ingressar no convento e dedicar-se à vida religiosa.
E Maria Tereza tornou-se serva, Serva do Espírito Santo. Espírito que já a habitava mesmo antes de deixar o esteio da casa dos pais. Maria Tereza tornou-se a Ir. Veramaria. Os caminhos da Congregação a levaram longe, para a prática da caridade e da evangelização.
O tempo passou, e o mesmo caminho que a levou a trouxe de volta, ao convívio familiar. Sua presença serena e dedicada superava a fragilidade que os anos lhe impuseram. E, até o fim, a “Irmã Fortaleza” manteve-se lúcida e dedicada aos seus.
“Deus vê o segredo de nossos corações. Quanto mais próximos d’Ele, mais intensamente o calor desse amor vai nos tornando puras e santas. É uma chama viva, escondida em nós.”
O seu lema era o AMOR ao próximo, a caridade. Tinha um bom coração, era honesta, sincera e sempre agradecida. Irmã Veramaria foi uma pessoa muito especial pelo modo carinhoso em lidar com as pessoas. Por onde passou, marcou com sua vida e dedicação.
Durante o tempo em que esteve no Rio de Janeiro, ela acompanhou as missionárias vindas de Angola, que passavam por lá quando iam de férias para seus países de origem ou para dar entrada na documentação. Muitas vezes, chegavam doentes, e a Ir. Veramaria as encaminhava para tratamento ou ela mesma cuidava delas em casa. Tinha um grande amor pela missão em Angola, fundada quando estava como coordenadora de nossa Província. Ela recebia no Convento as irmãs que para lá eram designadas e organizava o material que precisava ser enviado. Foi uma presença incansável e colaborou de tal maneira que, de alguma forma, era como se ela também estivesse indo nessa missão.
Quando uma irmã ficava doente, cuidava dela com muito empenho e carinho, encaminhando para os devidos tratamentos e dando acompanhamento espiritual. Era muito talentosa e tinha um ouvido muito afinado para a música. Ensaiava com perfeição para os grandes acontecimentos das comunidades por onde passou. Esmerava-se por uma liturgia bem cantada e belas apresentações em nossas festas especiais.
Por onde passou, o ambiente de trabalho era de muita organização. Era pessoa muito profunda na experiência de Deus e amava muito a Congregação e, por ela, deu a vida em nossa Província nos vários desafios dos novos tempos.
Pensar na Ir. Veramaria é acolher o amor de Deus presente em sua vida de dedicação que marcou nossas vidas de uma maneira muito especial. Assim se expressa uma das irmãs:
“Eu sou muito grata por tudo o que ela fez. Nunca ouvi a Ir. Veramaria se lamentar, estava sempre agradecida por tudo. Era acolhedora, compassiva, misericordiosa e justa. Sabia organizar um ambiente agradável para as irmãs se sentirem bem. Foi sempre muito humana com as irmãs da comunidade, respeitosa e compreensiva. Mesmo fraquinha, colaborava sempre na comunidade, preparando as orações e participando da liturgia diária com muito amor, carinho e dedicação. Sempre foi prestativa e caridosa para com todas as pessoas que se aproximavam.
Com tudo isso, aprendi muito com seu exemplo de vida. Ela sempre tinha uma boa palavra de ânimo e muito amor à Congregação e à Província. Cultivava o bom humor, a alegria e se fazia presente nos sofrimentos e na dor das coirmãs. Procurava ajudar e se colocava no lugar da outra, era sensível e se compadecia com a dor do próximo. Ela agia com prudência, sabedoria e bondade.
Estava sempre em oração, rezava muito. Sempre dizia que estava se preparando para a eternidade. Que ia tirar isso mais aquilo, que não precisava mais… Que ia deixar apenas as coisas de seu uso pessoal e, aos poucos, foi se despojando materialmente. Isso me fez refletir muito, e é uma verdade: só Deus basta, o resto é tudo bobagem!
Aprendi da Ir. Veramaria esse desapego total das coisas materiais; deixar tudo, despojar-se totalmente. Aí fica uma pergunta: o que devo deixar? O que estou buscando? O que vou levar?
Obrigada, Ir. Veramaria, pelo seu testemunho e seu exemplo de despojamento. Interceda a Deus por nós junto de Deus.”