O Sínodo da Amazônia, com o tema “Novos caminhos para uma ecologia integral”, segundo o cardeal Dom Cláudio Hummes, é importante não somente para a Igreja na Pan-Amazônia, mas para todos os países, porque amplia a discussão do cuidado com a natureza num momento “em que o mundo está passando por uma crise de máxima gravidade, porque está em risco o planeta”.
Como presidente da Repam (Rede Pan-Amazônica), Dom Cláudio Hummes tem dado palestras pelo Brasil, esclarecendo sobre o Sínodo da Amazônia e alertando sobre sua importância. No Instituto São Paulo de Estudos Superiores (Itesp), em São Paulo-SP, ele destacou, no dia 10 de junho, a urgência da preservação da natureza e a busca de novos caminhos para enfrentar os desafios pastorais que a Igreja enfrenta na região amazônica.
Embora seja um encontro de bispos marcado para Roma, em outubro próximo, o sínodo vai ouvir lideranças das comunidades da Pan-Amazônia, especialmente indígenas, que falarão sobre suas realidades. Embora a Igreja não vá refletir a respeito de fronteiras nem com questões de soberania nacional, o governo brasileiro reagiu… Para Dom Cláudio, o receio do governo é que o sínodo mexa com seus interesses e o das grandes empresas que tratam a Amazônia como um grande negócio.
Que futuro você quer para seu filho?
Partindo do tema da ecologia integral, Dom Cláudio falou sobre as mudanças climáticas que já estão ocorrendo no planeta por causa do aquecimento global, causado pelo efeito estufa. Ele lembrou que, se a temperatura subir mais de 1,5 grau, o processo será irreversível. O planeta ficará tão aquecido que não terá mais condições de vida.
Para evitar que isso aconteça, será necessário abandonar o uso do petróleo, do carvão mineral e do gás mineral, principais fontes de energia utilizadas atualmente, e substituí-las por energia limpa. Isso é possível, mas requer investimentos altíssimos e vai contra os interesses dos que vivem da exploração dessas energias fósseis, que produzem o gás carbônico, um dos principais responsáveis pelo efeito estufa.
Dom Cláudio alertou que, se essas medidas forem deixadas para depois, “será tarde demais”. Salientou que se trata de uma questão ética: o direito das próximas gerações de ter um planeta saudável. E questionou: “Que futuro você quer para seu filho? O futuro será não ter futuro só porque você não tem coragem de mudar?”.
Discorrendo sobre o paradigma tecnocrático e o processo exploratório com o uso de novas tecnologias, reforçado pela ideologia do liberalismo, a terra tem sido explorada até o limite e de maneira irresponsável. Por isso é necessário e urgente buscar novos modelos de desenvolvimento para reverter o processo, porque o planeta está dizendo que não dá mais.
Desafios pastorais na Amazônia
Dom Cláudio situou alguns dos problemas que a Igreja na Amazônia enfrenta, especialmente por ser uma Igreja com muitas dificuldades econômicas e que enfrenta grandes distâncias para alcançar as comunidades. Embora haja muitas comunidades, há poucos pastores, e estes não conseguem estar presentes. Apenas visitam os povoados, em muitos casos, apenas uma vez por ano. “Um pastor que aparece uma vez por ano não pastoreia”, afirmou ele. “As comunidades têm o direito de celebrar a Eucaristia e ter os sacramentos, ter um pastor que reza com o povo, celebra, acompanha… Mas isso não existe, o que é muito sério!”, lembra.
Ele afirmou que, “depois de 400 anos de evangelização, ainda não conseguimos passar a Igreja para eles; não temos um clero autóctone, inculturado… E isso é um direito deles”. Daí a urgência de se buscarem novos caminhos e de se discutir sobre os ministérios ordenados, para que a Igreja possa realizar uma pastoral de permanência, com ministros das próprias comunidades.
Para Dom Cláudio, o cuidado com a preservação da Amazônia também é parte importante da ação pastoral da Igreja naquela região, pois do cuidado do meio ambiente depende a sobrevivência das próprias comunidades, “uma vez que tudo está interligado, e o que fazemos contra a terra o fazemos contra nós mesmos”, completou o cardeal.