Animadas pelo espírito sinodal que nos deixou o Papa Francisco, as irmãs missionárias servas do Espírito Santo (SSpS) da Comunidade do Convento Santíssima Trindade, em São Paulo-SP, aceitaram entrar numa experiência de roda de conversa. A ideia foi aprofundar sobre a vida de nossa Bem-Aventurada Madre Josefa Stenmanns, cuja data litúrgica é celebrada em 20 de maio. A proposta trouxe, de forma coletiva, a memória que temos de uma de nossas cofundadoras, uma mulher que até hoje inspira nosso viver no dia a dia.
Para a conversa fluir num clima colaborativo e de aprofundamento, adotamos algumas práticas da conversação no Espírito que animou o Sínodo da Sinodalidade, realizado nos últimos anos. Essa metodologia promove uma escuta mais profunda, uma reflexão compartilhada e ajuda a gerar comunhão entre as participantes. Focamos na importância de deixar cada irmã falar e ouvi-la com o coração, sem interpretação e julgamento, assim como não se preocupar com o que partilharia, permitindo à conversa fluir e crescer conforme as pessoas iam partilhando na roda. Tratou-se de deixar o Espírito nos inspirar.
Aproximamo-nos de Madre Josefa a partir do tema “Transformação”, proposto para inspirar as reflexões em 2025. Numa primeira rodada, procuramos refletir sobre “as transformações que Madre Josefa viveu em sua vida”. A seguir, partilhamos, de forma mais organizada, o que foi brotando na roda de conversa:
- Na juventude ao perder precocemente a mãe, tornou-se uma segunda mãe e apoio para o pai e toda a família.
- Devido ao Kulturkampf de Bismark, não pôde ingressar na vida religiosa, para a qual se sentia chamada desde jovem. Porém não ficou parada, entrou na Ordem Terceira Franciscana e tornou-se uma referência em sua aldeia, no cuidado dos pobres e doentes.
- Ao ajudar a custear os estudos de um seminarista que ingressou em Steyl, conheceu a obra missionária de Santo Arnaldo Janssen, deixando-se impregnar pelo bom espírito que lá reinava e resolveu integrar o grupo de jovens que aspiravam à fundação de um ramo feminino.
- Permaneceu firme e perseverante, junto a suas companheiras, quando as irmãs da Divina Providência as atraíam para entrar em sua congregação, nos longos anos de espera.
- Sua vocação cresceu e se transformou numa vocação religioso-missionária. Mais ainda, ela integrou uma geração fundante de uma grande obra missionária da Igreja. A Bem-Aventurada Madre Josefa caminhava confiante, deixando-se iluminar e fortalecer pelo Espírito Santo na busca da vontade de Deus. Uma caminhada diária no desconhecido. Tudo estava para ser construído.
- “Meu coração está pronto”, “Pronto está meu coração”. Assim, buscava sempre a vontade de Deus no dia a dia. Preparar as verduras, lavar imensas panelas, cerzir meias… Tudo é missão quando realizado por amor.
- Com muito amor e simplicidade, acolhia e preparava as candidatas para a vida missionária. Algumas, como a futura Madre Maria Micaela, chegavam adultas e com muita experiência de vida. Acolhia-as com a mesma disposição e simplicidade. Como todas as candidatas, ela almejava ir também para as missões, mas descobriu seu caminho na preparação de muitas missionárias que partiriam em seu lugar.
- Tinha grande zelo pelo bom espírito na Congregação. Insistia no amor mútuo, sempre. Cultivava isso em todas as suas cartas e ensinamentos para as irmãs.
- Ao querer oferecer algo para quem estava de partida para as missões, e não possuindo nada, ofereceu simplesmente um lápis usado de carpinteiro para expressar a união que devia existir entre todas as irmãs.
- Caminhar com a Bem-Aventurada Madre Maria, criar laços de amizade e colaboração mútua naquele início pobre e penoso de nossa Congregação, e, depois, entregá-la para a clausura da adoração perpétua. Pronto estava sempre seu coração!
- Também a asma e a dura doença respiratória no fim de sua vida, tudo procurava acolher e integrar em sua vida.
Num segundo momento, procuramos aprofundar e partilhar sobre o que Madre Josefa nos propõe a ser vivido neste Ano da Transformação. Ainda em nosso tempo, ela nos aponta para:
- Viver na presença de Deus, buscando e discernindo a vontade de Deus no dia a dia, aprendendo sempre a se reinventar. Toda situação difícil aponta para uma saída.
E mais:
- Sua entrega no sofrimento nos dá força, ajuda-nos a enfrentar as dificuldades e adversidades.
- Sua atitude materna em relação às irmãs nos ensina muito em nossas relações.
- Sua devoção ao Espírito Santo, como Sopro de Vida, anima-nos neste processo de transformação diária.
- Seu querer bem entre as irmãs em situações de muito sacrifício e dificuldades nos desafia.
- A fé que temos de sua presença entre nós, viva e atuante, à qual podemos recorrer em nossas lutas diárias nos anima. Quantos centros sociais e educacionais temos dedicados a ela, e todos com uma missão muito viva, atendendo os mais necessitados. Sua força, seu ânimo, sua pessoa inspira e dá força àqueles que lá trabalham. Ela ajuda também nossas famílias quando intercedemos por ela.
- Ela nos ensina a viver ancorada em Deus, com o coração sempre pronto a gerar vida.
Essa experiência de partilha comunitária nos ajudou muito, como comunidade, a perceber e a celebrar a vida de nossa querida Bem-Aventurada Madre Josefa. Ficamos com o desejo de prosseguir com outros membros da Geração Fundante, em rodas de conversas futuras. Quando nos unimos num bom propósito, o Espírito vem a nosso encontro, inspirando-nos sempre mais.
Quem foi a Bem-Aventurada Madre Josefa Stenmanns
Nasceu em 28 de maio de 1852, na Alemanha. Seu nome de batismo era Hendrina Stenmanns. Aos 14 anos, teve de deixar os estudos para ajudar o pai no cuidado com os irmãos menores. Aos 19 anos, tornou-se membro da Ordem Terceira de São Francisco.
Mais tarde, conheceu a obra iniciada por Santo Arnaldo Janssen, a Congregação dos Missionários do Verbo Divino (verbitas). Sabendo que o Fundador tinha também o desejo de iniciar um ramo feminino, juntou-se com outras duas moças que trabalhavam como empregadas no seminário. Nutriam a esperança de que logo o padre daria início àquela dimensão da obra.
Hendrina foi recebida como postulante em 8 de dezembro de 1889, data considerada a da fundação da Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo. Com a entrada na vida religiosa, passou a ser chamada de Josefa.
Faleceu em 20 de maio de 1903, com 51 anos incompletos. Foi beatificada pelo Papa Bento XVI em 29 de junho de 2008.
Irmã Maria Inês Aragão e irmãs da Comunidade do Convento Santíssima Trindade, São Paulo-SP.