Neste dia 12 de fevereiro, recordamos com indignação o assassinato da Ir. Dorothy Stang, ocorrido em 2005. Missionária da Congregação de Notre-Dame, Ir. Dorothy foi brutalmente alvejada no Município de Anapu–PA. Por décadas, ela se dedicou a aliviar o sofrimento do povo pobre, promover a reforma agrária e a proteger o meio ambiente. Sua ação profética por meio de projetos concretos incomodou os poderosos daquela região: latifundiários interessados na extração de madeira, na expansão do plantio da soja, na conquista do espaço para o gado e na mineração.
Depois de 14 anos de seu martírio, percebemos que a Mãe Terra e os filhos do solo paraense continuam sofrendo devido aos avanços do capitalismo selvagem. Indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades pobres são os mais vulneráveis aos múltiplos impactos socioambientais gerados pelos megaprojetos.
De acordo com informações do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, dos 2.441 km2 de área desmatada entre agosto de 2017 e maio de 2018, 852 km2 foram no Pará. Somente no mês de maio de 2018, a floresta amazônica perdeu uma área verde equivalente a duas vezes o tamanho de Belo Horizonte.
Outro projeto de grande impacto para os comunitários e para o meio ambiente no Pará é a mineração de bauxita. A Mineração Rio do Norte (MRN) é a maior produtora de bauxita do Brasil e a terceira maior operação do mundo. As concessões de lavra da empresa abrangem 123.757,12 hectares de floresta amazônica. Além da contaminação das águas, a grande preocupação para os moradores da região são as barragens de rejeitos construídas pela MRN.
Um campo de grandes contradições no Estado se refere à produção, distribuição e custos da energia elétrica. O Pará, depois do Paraná, é o Estado que mais gera energia de fonte hídrica. Com as novas instalações na hidrelétrica de Belo Monte, em 2020, tende a ser o primeiro. A Celpa (Centrais Elétricas do Pará S/A) é a única empresa de distribuição de energia elétrica para todo o Estado. Entre 2017 e 2018, ela acumulou um lucro líquido de 549,32 milhões de reais. No entanto, no Brasil, são os moradores do Pará que pagam mais caro pelo consumo de energia elétrica. Mais grave ainda é que existem comunidades onde não há energia nas casas.
Estradas em péssimo estado, escolas precárias, falta de transporte, precariedade no sistema de saúde são outras realidades que ferem os direitos garantidos na Constituição, negligenciados ao povo do Pará.
A Igreja local depara com esses desafios e enfrenta seus próprios limites. As distâncias entre as comunidades são grandes. O número de padres e religiosas é baixo para a demanda local. Nem sempre há consenso sobre a organização e a ação da Igreja ante a realidade do lugar.
Diante desse quadro, Ir. Dorothy continua sendo um raio de luz no coração da Amazônia. Sua vida, consagração e missão conclama especialmente a vida consagrada religiosa a voltar o olhar para essa parte do Brasil. Sua entrega total e seu sangue derramado é o testemunho mais fiel de que seguir o Evangelho é comprometer-se com a integridade da criação até as últimas consequências. IRMÃ DOROTHY, PRESENTE!
Por: Irmã Stela Maris Martins
Presidente da Redes (Rede de Solidariedade) e graduanda em Ciências Sociais pela PUC Rio