O Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica, realizado em outubro, no Vaticano, teve como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O encontro ganhou muita repercussão não apenas nos países que compõem a região. Conforme o desejo do Papa Francisco, houve liberdade para o diálogo, e as decisões poderão ter reflexos em outros lugares.
A Igreja reza “Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado, e renovareis a face da terra”. Caminhos novos para a Igreja seguir, abrindo portas, construindo pontes e anunciando a novidade do Cristo Vivo “ontem, hoje e sempre” (Hb 13,8) para todos, especialmente para os que vivem nas periferias, os migrantes, os invisíveis, os sofridos e esquecidos.
No dia 21 de novembro, no Colégio Santa Teresa de Jesus, na Tijuca, Rio de Janeiro-RJ, o cardeal Dom Cláudio Hummes, relator-geral do Sínodo, apresentou algumas conclusões. Vejamos:
Sobre os indígenas
Foi extraordinária a grande presença de povos indígenas a caráter na Basílica de São Pedro. Ninguém jamais tinha visto aquilo dentro da Basílica; certamente indígenas, sim, mas não a caráter. Muitos na Cúria colocaram interrogações: o que estava acontecendo? Viram algo que a Igreja na Europa não conhecia sobre a periferia do mundo (América do Sul, Brasil, Amazonas…), que não tinha importância e agora passou a ter. Agora somos iguais a vocês! Isso não foi fácil assimilar. Foi um choque muito grande, segundo o Dom Cláudio. A Cúria tinha uma ideia vaga.
O Papa Francisco disse: vocês estão dizendo que estou sozinho? Olha só quanta gente comigo que vocês não conhecem! Tinham uma ideia vaga de que isso existia. Mandavam missionários e, cada vez menos, porque há cada vez menos padres.
O pedido aprovado é que a Igreja seja uma aliada e defenda os povos indígenas. A Igreja tem de reconhecer que os povos nativos devem ser sujeitos, protagonistas de sua história, devem decidir seu futuro. Não são objeto de nossos projetos, por mais importantes que sejam e por mais dinheiro que se tenha para as ações. Isso é colonização, seja politicamente, seja religiosamente. É a pior coisa que se pode fazer. O neocolonialismo é uma tragédia, e isso ficou muito claro no Sínodo.
Os indígenas querem acolher, estar juntos com a Igreja. “Vamos caminhar juntos. Que o Evangelho seja pregado, oferecido, mas não imposto. Que possamos, pelo diálogo, identificar de que forma podemos inculturar essa fé. Todos os missionários são bem-vindos, mas dentro de nossa mentalidade, de nossa história. Que cada um possa ir decidindo ser cristãos ou não, mas dentro de uma Igreja indígena.”
Depois se falou muito sobre novos modelos de desenvolvimento. Os indígenas têm o direito de progredir, desenvolver-se. Não podemos obrigá-los a ficar ali, na fase que estão, como um museu, mas são eles que devem ter o direito de dizer o que é importante para seu desenvolvimento, o que constrói e destrói, incomoda e coloniza.
Sobre ordenação de padres casados
Exercer o vicariato apostólico, como se diz em países de língua espanhola. Saem e vão para as comunidades. Mas, de fato, deveriam viver e conviver ali, e isso não se dá por decreto, porque não se pode obrigar ninguém a fazer isso, não se consegue fazer. Você pode fazer grandes retiros, tentar converter, mas isso de fato não acontece.
Há pouquíssimos padres que vivem com as comunidades indígenas, ribeirinhas, aquelas mais retiradas, mais isoladas. Nesse contexto, surge a demanda da ordenação de homens casados, gente da comunidade que vive ali e se compromete a permanecer ali. Somente poderiam exercer seu sacerdócio ficando na comunidade e não indo para outras dioceses depois de ordenados.
Que a Igreja invista mais em diáconos permanentes indígenas e outros, e que tenham experiência fecunda como diáconos. Entre eles poderiam ser escolhidos os que tivessem condições de serem ordenados padres. Foi aprovado e está com o Papa para decidir se é possível ou não, mas foi pedido.
Sobre a presença da mulher
Houve uma participação grande das mulheres. Não foi o Sínodo para as mulheres, mas elas tiveram realmente uma presença muito grande, bonita e valente. Falaram o que queriam falar, e o Papa as ouvia. “Nós temos de escutar vocês, porque precisamos dar passos para frente”, disse Francisco. Isso foi muito bem acolhido.
Muito preparadas, elas abriram o jogo porque sabiam que o Papa as apoiava, e elas se sentiam ainda mais à vontade para expor os pensamentos. Foi muito bonito! Todos agradecemos essa participação, porque ajudou dentro desse contexto e vai iluminar a Igreja mundo afora. Há necessidade de fazer com que cada vez mais passos sejam dados em relação às mulheres na Igreja.
Segundo Dom Cláudio Hummes, o diaconato feminino não avançou, mas os estudos devem continuar, porque não há clareza ainda. O que foi aprovado é que houvesse ministérios instituídos, porque existem os ordenados e os instituídos, mas os instituídos também são estáveis, portanto dá uma estabilidade também litúrgica e eclesial dentro da comunidade.
Cristina Maia, doutoranda em Educação, professora de Ensino Religioso, com estudos aprofundados em Teologia e Bibliodrama, membro da equipe nacional de espiritualidade SVD e SSpS.