Estamos muito próximos das eleições municipais no Brasil. No dia 15 de novembro, 147,9 milhões de eleitores estão aptos a ir às urnas e tomar parte na importante decisão de escolher os representantes do executivo e do legislativo dos 5.569 municípios do País. O voto é obrigatório para as pessoas entre 18 e 70 anos; opcional para jovens entre 16 e 18 anos, idosos com mais de 70 anos e analfabetos. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, neste ano, houve um aumento tanto no número de eleitores quanto de candidatos a prefeito e vereador. Em tempos em que a democracia vem sofrendo ameaças, esses dados são vistos com bons olhos. No entanto, ter um título de eleitor e estar apto ao voto não é suficiente para a vitalidade democrática.
De acordo com os dados das últimas eleições municipais, no primeiro turno, 17,8% dos brasileiros não compareceram às urnas. No Município de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil, a soma dos votos brancos, nulos e das abstenções foi maior que o número de votos que o candidato a prefeito vencedor conquistou. Uma pesquisa do cientista político José Álvares Moisés aponta que, embora a maioria dos brasileiros demonstre satisfação com o sistema de governo democrático, há um estranhamento entre eleitores e políticos, e uma grande desconfiança em relação às instituições políticas. Nesse sentido, é comum ouvirmos expressões do tipo “eu não gosto de política” ou “esses políticos são todos ladrões”, entre outras afirmações que revelam desprezo pela política.
Precisamos, contudo, tomar consciência de que, quanto mais nos afastamos, agimos com indiferença ou imaturidade em relação à política, mais a crise se aprofunda. Honestamente, é necessário avaliar nossas próprias atitudes em relação ao que é público. Não é raro ouvirmos críticas afiadas das pessoas sobre a corrupção das elites governamentais, porém, no período eleitoral, muitos põem seu voto à venda ou fazem de moeda de troca, reforçando a corrupção.
Desde sua origem, a política supõe participação ativa na busca do bem comum. Sem dúvida, o voto é um dos principais instrumentos da vontade popular capaz de influenciar na vida e no destino das cidades. Ao abster-se ou anular o voto, a pessoa abre mão desse direito e corre o perigo de ser governada por aqueles que participaram do processo eleitoral. Assim, mais do que votar, é necessário “votar conscientemente”, ou seja, é fundamental que o eleitor conheça os partidos políticos, com seus conteúdos programáticos, os candidatos e suas propostas de governo, bem como sua realidade local, com os problemas de política pública que afetam sua vida e da comunidade.
Vale a pena ressaltar que a ação política do cidadão e o sucesso democrático não se encerram com o voto confirmado nas urnas eletrônicas. A eleição dos representantes do povo não significa um “lavar as mãos” do que é público. A democracia depende da participação constante das pessoas na vida republicana, por meio de suas ações e palavras na busca do bem comum. Que o 15 de novembro de 2020 seja, portanto, o primeiro compromisso assumido com o governo de nossas cidades e que, ao longo dos próximos quatro anos, sejamos corresponsáveis no exercício da política em nossas cidades.
Ir. Stela Martins, SSpS
Coordenadora da Redes
Rede de Solidariedade