Encontro decisivo (Jo 4,3-38)

O Quarto Evangelho nos apresenta encontros significativos de Jesus com algumas mulheres, destacando-as como protagonistas exemplares. Por exemplo, a Mãe de Jesus, Marta, Maria Madalena e a Samaritana.

Neste breve escrito, nós nos deteremos especificamente no episódio do encontro de Jesus com a Samaritana (a figura da mulher samaritana pode estar se referindo a uma pessoa específica ou a uma comunidade). Entretanto o que se deve observar nesse episódio é a função que desempenha a Samaritana na construção da teologia da comunhão do Quarto Evangelho.

Os samaritanos tinham uma longa história de rejeição por parte dos judeus, os quais os consideravam inimigos. Depois da queda da Samaria, no ano 722 a.C., os assírios deportaram parte da população e, em seu lugar, trouxeram pessoas de cinco países diferentes. Com o passar do tempo, esses povos foram se misturando com eles. Isso valeu aos samaritanos a conotação de “impuros”.

O autor inicia a narrativa do encontro de Jesus com a Samaritana, insistindo que era preciso que Jesus passasse pela Samaria para ir à Galileia. É interessante apreciar cada detalhe, simbolismo, expressões e mudança de cenas dessa narrativa, pois esses elementos não são casuais, mas desempenham o papel de nos conduzir à mensagem principal.

Era preciso passar pela Samaria…, chegou então a Sicar… Aí estava a fonte de Jacó… Chegou uma mulher da Samaria para tirar água, e Jesus lhe disse: “Dê-me de beber”. A mulher samaritana lhe disse: “Como é que você, sendo judeu, pede de beber a mim, que sou mulher samaritana”. Jesus lhe disse: “Se você conhecesse o dom de Deus e soubesse quem lhe está dizendo ‘Dê-me de beber’, você é que lhe pediria. E ele daria água viva para você”… Vão adorar o Pai em espírito e verdade (cf. Jo 4,3-38).

As mudanças de cena entre Samaria e Galileia se reforçam com o contínuo movimento cidade-poço. Nas dinâmicas de resolução de conflitos, exige-se um contínuo movimento de ambas as partes para sair de si, sair do lugar, para poder abrir-se ao diálogo. Trata-se de ir ao encontro do outro, despido do orgulho, do preconceito e do ódio.

No Antigo Testamento, a expressão “fonte” faz alusão a Iahweh. Ele é a fonte de água viva (Jr 17,12-13). Ao Jesus se apresentar à samaritana com aquele que pode dar “Água Viva”, está se apresentando como o Filho, o enviado do Pai e, junto ao Pai, Ele envia o Espírito Santo (Água Viva). Nesse encontro, a Samaritana se coloca como modelo do discípulo: escuta, demonstra conhecimento, assimilação e disposição para o anúncio. E, a partir de seu testemunho, os samaritanos são levados à fé em Jesus. O encontro entre ambos, Jesus e a Samaritana, é decisivo para restabelecer o diálogo, fonte de conversão e comunhão.

Na atualidade, vivemos a volta ao conservadorismo e autoritarismo, portanto toda diferença vira ameaça. As sociedades se dividem entre “nós” e os “outros”, ou seja, os “inimigos”, os “impuros”. Diante dessa realidade, torna-se “preciso passar pela Samaria” e promover a cultura do encontro. Jesus foi ao encontro dos que eram mais marginalizados, excluídos e condenados pelas leis do puro e impuro. Aliás, em diálogo com a mulher samaritana, Ele nos abre o olhar ao “novo lugar de culto”. Vão adorar o Pai em espírito e verdade. Dessa forma, Jesus derruba todo fundamento à exclusão, ao ódio e ao preconceito e nos oferece a possibilidade da Água Viva que conduz à vida eterna.

Irmã Juana Ortega, SSpS, é teóloga especializada em Bíblia. Nasceu no México, trabalhou em Moçambique e, atualmente, além de animadora vocacional, acompanha as jovens aspirantes na Comunidade Madre Josefa, em Belo Horizonte-MG.

Referência
CENTRO BÍBLICO VERBO. Permanecei no meu amor para dar muitos frutos: entendendo o Evangelho de João. São Paulo: Paulus, 2015.

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