Formação permanente: servas do Espírito Santo discutem as práticas de justiça e paz

“Desenvolvimento e prática da justiça e paz e integridade da Criação” foi o tema da formação permanente das missionárias servas do Espírito Santo, realizada, no formato on-line, no dia 18 de março. O tema é uma proposição do Governo-Geral para que as práticas de justiça e paz, legado dos fundadores, permaneçam como premissa para a missão. Como rezam as normas constitucionais da Congregação,a promoção da justiça, paz, integridade da Criação (Jupic) e defesa da vida humana é parte integrante do chamado religioso-missionário.

O evento reuniu cerca de 150 irmãs representantes das missões nos Estados Unidos, Colômbia, Equador, México, Cuba, Paraguai, Chile, Bolívia, Argentina e Brasil. A assessoria foi das irmãs Petronella Maria Boonen e Maria Inês Aragão.

Com base nos capítulos-gerais, Ir. Maria Inês aprofundou as práticas de justiça e paz na instituição. A expressão “justiça e paz” apareceu, pela primeira vez, em 1990, no 8º Capítulo-Geral, como desafio de servir à libertação integral da pessoa humana. “A missão justiça e paz, e integridade da Criação é vivida desde a fundação, pois os fundadores sempre tiveram um olhar para as populações mais pobres, o que vale dizer, faz parte do nosso carisma”, acrescenta.

Ainda segundo Ir. Maria Inês, nos documentos capitulares, a justiça não se refere a uma justiça corretiva, vingativa, mas a uma justiça evangélica. “Ou seja, construção de comunidades e sociedade de justiça evangélica, reconciliação e cura, onde não haja lugar para qualquer violência pessoal e social, e exista a promoção da integridade da Criação, favorecendo a passagem do consumismo ao uso consciente de recursos, da exploração à ecorresponsabilidade, de uma consciência passiva a um envolvimento ativo nas mudanças sistêmicas.”

As práticas de justiça e paz no dia a dia das servas do Espírito Santo

Durante o encontro, algumas irmãs puderam testemunhar como se dão, no concreto, as práticas de justiça e paz e integridade da Criação. Irmã Mariel Clapassón, educadora da Escola de Diamante, na Argentina, falou sobre o Projeto Cuidado da Casa Comum, por meio do qual alunos e professores semearam árvores autóctones da zona costeira e limparam espaços públicos, como praças, ruas e a orla do rio Paraná. Quando prontas para o transplante, os alunos do ensino secundário plantaram as árvores nesses espaços, em acordo com a Câmara Municipal da Cidade de Diamante e com a ajuda e orientação dos Parques Nacionais.

“A fitoterapia nos permite usufruir respeitosamente as plantas, tirando delas as essências que beneficiam o ser humano, sem danificar a própria natureza. Isso resulta em bem-estar para mim mesma, pois a natureza é minha sobrevivência”, explicou Ir. Maria Aparecida Ricardo Ribeira, de Três Passos, Rio Grande do Sul, que atua nessa área, no Brasil.

Irmã Carolina Gonzalez, que trabalha junto às comunidades indígenas no México, afirma que, dentro da pastoral indígena, promove a Jupic, acompanhando os processos de defesa e fortalecimento da identidade cultural dos povos originários Zapotecas, Mixtecas e Chatinos. “Fazemos isso por meio da revitalização de sua língua materna, que se opõe à cultura homogênea, bem como tornando visível sua luta por sua terra e território, a partir da Remam” (Rede Ecológica Eclesial da Mesoamérica).

“Trabalhamos com reflorestamento, enriquecimento de bosques com árvores frutíferas, cuidando da cobertura vegetal, cultivo associado de três plantas, em três tempos, no mesmo terreno. Essas plantas crescem e convivem juntas, uma dando força à outra (mandioca, milho e amendoim ou abóbora). Reforçamos, valorizamos e resgatamos o estilo de vida, de trabalhar e plantar dos povos que, muitas vezes, é depreciado”, contou a Ir. Angela Balbuena, que trabalha no projeto de produção agroecológica com as comunidades indígenas Ava Guarani, Mwya Guarani e Paî Tavy Terá (Kaiowá), no Paraguai.

Vivat: presença religiosa nas Nações Unidas pela justiça e pela paz

Ao ser questionada sobre a origem da Vivat, uma organização que traz em seu bojo a luta pela justiça e pela paz, Ir. Petronella Maria Boonen explicou que é uma fundação das congregações das Missionárias Servas do Espírito Santo e Missionários do Verbo Divino. “A proposta da Vivat é ser presença, diante das Nações Unidas, da vida religiosa, para levar as vozes dos povos e comunidades vulneráveis, seus problemas e preocupações com o cuidado da Casa Comum, a superação da desigualdade e a violação dos direitos humanos. Isso demanda um profetismo inspirado no Evangelho, que escuta e responde aos gritos dos pobres e da terra.”

Ainda conforme Ir. Petronella, é preciso fomentar nos membros da Vivat a ação local em rede, conjugada com uma incidência global. “Articular a defesa de direitos humanos com instituições internacionais e pressionar governos locais significa trabalhar em um campo de missão que demanda investir na formação inicial e continuada.”

Rosa M. Martins
Mestra em Jornalismo, Imagem e Entretenimento pela Fundação Cásper Líbero, licenciada em Filosofia pela Universidade Salesiana de Lorena (Unisal), bacharela em Teologia pela Pontifícia Universidade São Boaventura de Roma. É missionária scalabriniana e vive em Santo André-SP. Indicada ao Prêmio Tarso Genro de Jornalismo em 2020, foi vencedora do Prêmio Papa Francisco, categoria mestrado, do Prêmio CNBB de Comunicação com a dissertação “Menores estrangeiros não acompanhados: uma análise da representação no fotojornalismo italiano”, em 2021.

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