Neste mês, a Encíclica Laudato si’ (Louvado sejas, meu Senhor) completou quatro anos de existência. Desde que foi lançada, veio ao mundo como uma grande primavera. Trouxe um florescimento, o aflorar do diálogo com todas as sociedades e religiões. O Papa Francisco lança ao mundo um grande apelo: cuidemos da Casa Comum, cuidemos do planeta.
A Laudato si’ expôs, de forma clara, como devemos nos preocupar com a Terra. A novidade está em sua formulação: a Casa Comum. Não foi apenas uma preocupação unilateral em torno do meio ambiente, do meio onde se vive. Mas avançou para algo maior e nos fez pensar que o planeta é nossa casa. E sendo a nossa casa, deve ser cuidada, com afeto, esmero e responsabilidade. Uma obrigação de todos e todas que vivem dentro dela.
Para tanto, apontou que, para organizarmos a casa, o planeta, precisamos ter em conta alguns pontos: a pobreza e a fragilidade do planeta, a interligação de tudo no mundo, as formas de poder que derivam das novas tecnologias, uma economia e um progresso não predatórios, o sentido humano da ecologia, a busca por diálogos sinceros entre os povos, a responsabilidade e local da política internacional, a cultura do descarte e um novo estilo de vida.
Essa organização da casa comum não é fácil. Depende de cada um de nós, desde os pequenos gestos aos grandes feitos, tanto das Igrejas quanto das sociedades. Desses pontos destacam-se três. Primeiro, sobre a economia e progresso. O Papa Francisco, ao longo dos anos, nos adverte o quanto a ganância por riquezas vem gerando, cada vez mais, a pobreza, a miséria e a morte. Se existe a pobreza é porque não ocorre a distribuição justa dos bens e produtos de cada país. A economia está centrada nas mãos de poucos. Outro ponto é a questão política internacional e local que vem demonstrando o quanto desumaniza os povos. Vemos, na América Central, famílias inteiras em grande deslocamento, em busca de uma nova vida. Há alguns dias, presenciamos o quanto a vida vale pouco: um pai e sua filha, ambos da Guatemala, morreram afogados na travessia para os Estados Unidos. Assistimos a tudo isso e a outros casos mundo afora e nos perguntamos para onde vai o sentido da política humanitária do mundo. Para onde caminha o humano nestes tempos? O terceiro ponto nos mostra como tudo nos interliga dentro da Casa Comum.
Na Laudato si’, o Papa Francisco nos mobiliza a pensar em outro mundo possível, de amor, solidariedade e partilha, com uma economia que beneficie a todos e todas, e um progresso que nos leve a um futuro de paz e comunhão. Hoje, no Brasil e em muitos países latino-americanos, presenciamos muitos gestos que nos fazem mais humanos e percebemos o quanto estamos interligados. O maior deles, para nós, cristãos e cristãs, é o Sínodo da Amazônia, que ocorrerá de 6 a 27 de outubro, em Roma.
O Sínodo da chamada Pan-Amazônia, que compõe a Bacia Amazônica, toda uma área da selva onde estão muitas nações indígenas, quilombolas, reserva nativo-biológica de plantas e sementes que devem ser preservadas, atualmente palco de disputas internacionais por suas riquezas. Além disso, para nós, cristãos e cristãs católicas, de modo especial, traz a triste questão da falta do encontro de muitos cristãos e cristãs com a Eucaristia. Há povos que não recebem o Corpo de Cristo por falta de sacerdotes. Um assunto que nos provoca a refletir sobre o futuro das vocações religiosas no Brasil. Além desse assunto, outros temas serão discutidos no Sínodo. Oremos por nossos bispos, para que sejam iluminados pela luz do Espírito Santo. Que possamos, juntos, cuidar de nossa Casa Comum.
O que apresentamos aqui, no plano de anúncio do papado de Francisco, é anúncio de vida e salvação, motivações nascida a partir da Doutrina Social da Igreja. Por isso a Igreja propõe ao mundo um ideal de uma civilização do amor. O amor social que é a chave para um desenvolvimento autêntico entre os povos. Porque tudo está interligado nesta Casa Comum.
Nilda Assis Cândido, mestra em Ciências da Religião (UMESP), coordenadora de curso (CESEEP – Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular), professora de Filosofia da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo.