Dentro das comemorações do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, celebrado em 1º de setembro, e da campanha “Semana sem Fronteiras”, promovida pela Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo, seguimos contando como outras culturas narram a Criação. Desta vez, vamos conhecer a tradição dos povos Makhuwa e Lomwe, nas Províncias de Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia, situadas ao Norte de Moçambique.
No livro Religiões africanas hoje: introdução ao estudo das religiões em Moçambique (Maputo: Paulinas, 2009), o antropólogo Francisco Lerma Martínez faz uma compilação do mito segundo o qual o primeiro homem foi criado por Muluku (Deus), nas grutas do monte Namuli. O lugar tem 2419 metros de altura e é localizado na Serra de Gurue, Província de Zambézia.
O recém-criado homem contemplava diariamente a extensa planície verde, onde crescia toda espécie de árvore e planta. Num certo momento, buscando satisfazer sua curiosidade, decidiu descer para conhecer melhor a maravilhosa paisagem.
Durante a perigosa descida, tropeçou numa pedra, caiu ferido por terra e desmaiou. Depois de muito tempo, quando despertou e abriu os olhos, deu-se conta de que seu sangue se misturava à água e observou, na cavidade de uma rocha, que estava formando lentamente uma figura semelhante a seu corpo: era a primeira mulher.
Formava-se, desse modo, o primeiro casal: um mulupwana (homem) e uma muthyana (mulher). Os dois continuaram a viagem até a planície, descendo por diversos caminhos que iam abrindo. Conforme iam se multiplicando as trilhas, elas se separavam, dando origem a diferentes grupos que hoje compõem esse povo. Segundo Martínez, a expressão “Miyo kokhuma o Namuli” (fui gerado no monte Namuli) sintetiza a identidade dos povos Makhuwa e Lomwe.