O encontro que busca respostas (Mt 11,2-6; Lc 7,18-23)

No começo dos evangelhos, encontramos João Batista como primeiro legitimador de Jesus (Jo 1,29-34; Mc 2,5), mas depois os relatos dão a entender que João não tem clareza sobre quem é o Nazareno e se interroga sobre ele: “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro” (Mt 11,2-6; Lc 7,18-23). Para nós, que nascemos na época recente, a pergunta de João pode até soar discordante, pois, na atualidade, basta acessar o Youtube e encontraremos abundantes vídeos sobre Jesus. Dessa forma, até quem nem frequenta a catequese mais básica postula-se a ser um conhecedor do Cristo.

As muitas informações, no entanto, nem sempre nos aproximam do Jesus dos evangelhos. Às vezes, somente criam imaginários que ou tranquilizam as consciências diante dos problemas sociais ou justificam comportamentos contrários ao Evangelho. É doloroso ver como, em nome de Jesus, agride-se, despreza-se, lucra-se, até mesmo se cometem assassinatos. Diante dessa realidade, é necessário interrogar-nos, ler os acontecimentos mais além da superficialidade e da banalização que se impõe. É necessário contemplar por onde o mistério de amor e vida plena revela sua face. Nesse marco, propomos o relato de Mateus (11,2-6), o qual encontra seu paralelo em Lucas (7,18-23), almejando que traga luz à nossa vida.

2João, ouvindo falar, na prisão, a respeito das obras de Cristo, enviou-lhe alguns dos seus discípulos para lhe perguntarem: 3“És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro”. 4Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que ouvis e vedes: 5os cegos recuperam a vista e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem e os mortos ressuscitam, e aos pobres é anunciado o evangelho. 6E bem-aventurado aquele que não se escandaliza por causa de mim!”.

O texto consta de uma pergunta de João (v. 2) e de uma longa resposta de Jesus (vv. 4-6). A resposta se articula com precisão. Assim, no versículo 5, temos seis frases breves, os dois pares primeiros estão unidos por χαί (e) e se justapõem em forma assindética, os dois últimos começam por χαι. O versículo 6 também começa com χαι, sendo que a força recai sobre esta última frase, por ser de maior extensão. O relato está emoldurado em seu contexto e apresenta uma unidade geral, com exceção do versículo 6, pois o tom da frase (“E bem-aventurado aquele que não se escandaliza por causa de mim!”) parece não se encaixar bem na pergunta de João.

Além do mais, a bem-aventurança parece estar dirigida a todos os seguidores e não apenas a João e a seus discípulos. Ora bem, se a bem-aventurança é parte da resposta de Jesus, podemos compreender que a pergunta sobre “o que há de vir” não pode satisfazer-se teoricamente. Nesse terreno, são necessárias as decisões pessoais a favor ou contra Jesus. E as curas “do tempo de salvação” devem ajudar a fazer a escolha.

O relato diz que João estava na prisão. Imaginemos a situação desse homem acostumado a andar e respirar o ar livre do deserto (Lc 3,2-3; Mt 3,1), e agora está confinado numa diminuta cela, afogado pelas paredes. Nessa situação crítica do cativeiro, a dúvida, a perplexidade ou até a surpresa pode ter surgido no coração do Batista. Os estudiosos concordam que não se trata de uma dúvida sobre se Jesus é ou não o Messias. João duvida porque não vê Jesus desempenhar o papel de “reformador fogoso” que ele esperava que fosse. No capítulo 3,17 de Mateus e 3,12 de Lucas, João apresenta o Messias reformador.

Jesus não responde à pergunta de João de forma direta, mas indiretamente remete ao tempo de salvação que profetas e reis quiseram ver. E ainda remete à própria experiência dos interrogadores: “Ide contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista e os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, e os mortos ressuscitam e aos pobres é anunciado o evangelho” (v. 5). Notemos que Jesus aponta os fatos, algo que João talvez não aguardasse como resposta. Quem sabe João esperasse que Jesus respondesse: “Os pecadores são destruídos. O juízo começou. A ira de Deus está em marcha!”.

Nós também, diante da realidade de injustiça social, política e econômica, de gênero, da realidade de opressão, destruição da natureza, do extermínio de grupos étnicos minoritários, com certeza, gostaríamos de escutar que Deus virá como um trovão a destruir todos os males que nos afligem. Mas a resposta de Jesus foi: “Voltem e digam a João que chegou o amor de Deus”. Deus não age de forma intervencionista, desrespeitando a liberdade que nos deu. Ele age com o único fogo que é o do amor. E o amor nos abre à salvação de Deus e nos encoraja a viver e lutar por um mundo de amor, justiça e paz para todos.

Nesse horizonte, compreende-se o fim da resposta de Jesus: “E bem-aventurado aquele que não se escandaliza por causa de mim!”. Trata-se da bem-aventurança que proclama ditoso quem se aproxima de Jesus sem ideias preconcebidas e sem preconceitos. Pois aquele poderá compreendê-lo como a personificação das bênçãos divinas anunciadas pelo profeta Isaías (61,1) e não como o reformador de fogo. Sejamos também nós parte dos bem-aventurados, levando a boa notícia do amor e da misericórdia de Jesus aos que ainda não o conhecem!

Irmã Juana Ortega, SSpS, é teóloga especializada em Bíblia. Nasceu no México e é missionária em Moçambique.

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