O Sínodo da Amazônia tem despertado grande interesse nos cristãos e na sociedade em geral. A cada dia, assistimos a inúmeros comentários e reflexões sobre a busca, a partir da Amazônia, de novos caminhos para a Igreja. O grito dos pobres, dos indígenas, da natureza e das mulheres marcou pautas de debate no Sínodo. Além disso, o tema da possível ordenação de diaconisas repercutiu no mundo com vozes a favor e encontra. Não nos cabe analisar aqui esse tema, basta-nos apenas refletir o trecho de Mateus 28,1-10, buscando compreender, à luz da Palavra, a grande confiança que Jesus teve nas mulheres que o seguiam e o seguem. Confiança que, no dia de sua ressurreição, ele mesmo confirmou: Ide anunciar a meus irmãos…
1Após o sábado, no início do primeiro dia da semana, Maria de Mágdala e a outra Maria foram ver o sepulcro. 2E eis que produziu um grande terremoto: o Anjo do Senhor desceu do céu, veio rolar a pedra e sentou-se em cima. 3Seu aspecto era de relâmpago, e sua veste, branca como a neve. 4Com o medo que tiveram dele, os guardas ficaram estarrecidos e como mortos. 5Mas o anjo, dirigindo-se às mulheres, disse: “Não tenham medo! Sei que vocês procuram Jesus, que foi crucificado. 6Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito”. 7Depois, “Ide depressa dizer a seus discípulos: ‘Ele ressuscitou dos mortos’. E eis que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis. É o que tenho a vos dizer”. 8Deixando às pressas o sepulcro, com medo e grande alegria, elas correram para levar a notícia a seus discípulos. 9E eis que Jesus veio a seu encontro e lhes disse: “Alegrai-vos”. Elas se aproximaram dele e abraçaram-lhe os pés, e, prostrando-se, o adoraram. 10Então Jesus lhes disse: “Não temais. Ide anunciar a meus irmãos que eles devem ir à Galileia. Lá é que eles me verão”.
Depois da narrativa da morte de Jesus, segue-se o relato da ressurreição. Lembremos que Jesus foi julgado e condenado à morte acusado de crime de blasfêmia (Mt 26,65). Isso ocorreu durante o governo de Herodes (Mt 27,2.14) e quando Caifás era o sumo sacerdote de Jerusalém (Mt 26,3). Era uma sexta-feira quando Jesus foi crucificado. É, portanto, significativo que os relatos da ressurreição comecem com o shabbat. Isso é um aviso de que o grande acontecimento da ressurreição ocorreu no primeiro dia da semana. No pano de fundo das narrativas, há uma chamada de atenção aos leitores para “algo novo” que está acontecendo. E dele as Marias foram as primeiras testemunhas. Elas tinham ido ao sepulcro, segundo o evangelista Marcos, com o objetivo de embalsamar o corpo (Mc 16,1).
Ora bem, mesmo que Mateus refira-se somente a duas mulheres, Maria Madalena e a outra Maria, como as primeiras a inteirar-se da alegria da ressurreição (v. 1), é obvio que elas estariam junto com outras (cf. Mc 15,40; Mt 27,55; Lc 23,49). Tratava-se daquelas que tinham seguido Jesus desde a Galileia, tinham-no acompanhado em sua paixão e crucifixão, e estado presentes quando o puseram no sepulcro (Mc 15,47; Mt 27,61; Lc 23,55). E, desta vez, recebiam a alegre surpresa: Jesus estava vivo! Embora parecesse muito belo para ser verdade, era verdade! Depois dessa bela experiência, coube a essas mulheres reunir de novo os discípulos e levar a eles a Boa Notícia da ressurreição (Mc 16,1-8; Mt 28,1-10; Lc 24,1-8; Jo 20,11-17).
O relato mateano está ornado de imagens: “grande terremoto”, “um anjo com aspecto como de relâmpago” e “vestes brancas como a neve”. São imagens que simbolicamente revelam o sentido escondido dos acontecimentos. Trata-se duma linguagem apocalíptica, própria dessa época. Com certeza, quer-se destacar e assegurar a veracidade da grande descoberta: o sepulcro estava vazio. Jesus havia ressuscitado! Estudiosos concordam que o “grande terremoto” pode estar rememorando o acontecido na sexta-feira. Porém, agora, em vez de avisar a morte de Jesus, mostrava a completude de sua missão. Notemos que esse terremoto era de maior proporção que o da crucificação, pois, por meio dele, era comunicada a nós a vitória divina, a prova da nova vida e a confirmação das promessas (Mt 17,9.22; Mc 8,31; 9,31; Lc 9,22).
Além disso, o Anjo vindo do céu surgiu pela primeira vez fazendo uso de um poder assustador, vindo do Senhor. Em outras passagens, os anjos aparecem somente como mensageiros da Palavra de Deus (Lc 1,12.19.26; Mt 1,20; 2,13), mas sem usar do poder. O anjo tinha a aparência de um relâmpago, e suas vestes eram brancas como a neve. Isso remete à cena da transfiguração no monte (Mt 17,1-2; Mc 9,2-3; Lc 9,28-29). O anjo falou às mulheres usando dois imperativos: Não tenham medo! Falem! As mulheres que tinham chegado ao sepulcro se deparavam com duas barreiras: a grande pedra que fechava o túmulo e os guardas que tinham sido colocados pelas autoridades para resguardar o lugar. Mas, em vez de lutar contra as barreiras, ficaram perplexas: a pedra fora removida, os guardas ficaram como mortos, e o Anjo, radiante de luz, explicou-lhes a razão.
O caminho estava livre, mas Jesus não estava lá, porque havia ressuscitado. As discípulas não tinham entendido que era necessário que tudo aquilo acontecesse para que a promessa de ressuscitar dos mortos se cumprisse. O Anjo as convidou a olhar o sepulcro, para que seu coração se acalmasse e pudessem logo contar aos outros discípulos: Falem! A promessa de ir diante deles à Galileia logo iria cumprir-se. As Marias, com medo e grande alegria, puseram-se a caminho. Tratava-se do medo de quem não estava ainda preparado para ver que aquele que morrera na cruz vivia! Pois bem, indo avisar aos discípulos, encontraram-se com Cristo. Ele as saudou: “Alegrai-vos”. As mulheres corresponderam à saudação, prostrando-se e adorando-o. O fato de adorar é sinal do reconhecimento de que Jesus é “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”.
Cristo repete às mulheres o que o Anjo lhes tinha dito, mas, no diálogo, existe uma mudança importante: em vez de os chamar de meus “discípulos”, Ele os chamou “meus irmãos”. No capítulo 12,46-50, Jesus disse que todos os que faziam a vontade do Pai eram seus irmãos, irmãs. Dessa forma, compreendemos que Jesus conta que esse pequeno grupo vai crescer pelo anúncio do Evangelho. Pois Cristo ressuscitou, e isso é uma verdade inegável, e as mulheres, primeiras testemunhas, recebem do próprio Senhor o mandato missionário: “Então Jesus lhes disse: ‘Não temais. Ide anunciar a meus irmãos que eles devem ir à Galileia. Lá é que eles me verão’” (v. 10). Esse mandato missionário não se restringe a um pequeno ou seleto grupo, mas é para todos e todas que, no caminho da fé, somos encontradas, encontrados pelo Senhor ressuscitado.
Irmã Juana Ortega, SSpS, é teóloga especializada em Bíblia. Nasceu no México e é missionária em Moçambique.