Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco deixou uma marca profunda não apenas na Igreja Católica, mas também no universo da educação. Seu legado educacional está entrelaçado com os valores mais essenciais do cristianismo: o amor incondicional, a misericórdia, o perdão, a inclusão e a defesa intransigente da dignidade humana. Com uma linguagem acessível e um coração pastoral, Francisco ecoou um chamado universal a um novo modo de educar, centrado no ser humano, em sua totalidade.
Em 2019, o Papa lançou ao mundo o Pacto Educativo Global, convocando educadores, instituições, governantes, famílias e jovens a unirem forças na construção de um novo modelo de educação. “Educar é um ato de esperança”, disse ele, sublinhando que, diante de um mundo marcado por crises sociais, culturais e ambientais, é urgente reconstruir os laços que unem as pessoas e as nações.
“O mundo atual está em constante transformação e está atravessado por múltiplas crises: climática, sanitária, econômica, social, mas também cultural e espiritual. Para enfrentá-las, é necessário ter a coragem de colocar no centro a pessoa humana”, declarou Francisco ao apresentar o pacto.
Essa proposta ultrapassa os muros escolares: ela clama por uma educação integral, que promova a escuta, o diálogo, a solidariedade, a justiça e o respeito ao outro, independentemente de religião, origem, condição social ou cultura.
No coração da proposta educativa de Francisco está o Evangelho. Não como um dogma a ser imposto, mas como uma fonte inesgotável de inspiração para uma educação baseada no amor e na misericórdia, lembrando que a pedagogia de Jesus sempre se dá pelo encontro, pela escuta e pela ternura.
Para o Papa, educar não é apenas transmitir conteúdos, mas formar corações. Ele insiste na necessidade de educadores que saibam “ensinar com o coração”, que sejam testemunhas de esperança e não apenas técnicos do saber. “A educação é um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo”, escreveu na introdução ao Pacto Educativo.
Outra dimensão essencial do seu legado é a defesa incondicional da inclusão e dos direitos humanos. Francisco não se cansa de denunciar as exclusões: das crianças sem acesso à escola, das populações marginalizadas, dos migrantes, dos pobres. Ele nos chama a reconhecer cada pessoa como imagem de Deus, o que exige um olhar educativo que acolhe, acompanha e promove a todos.
“A educação deve partir da escuta, da acolhida, da valorização da diversidade. Deve rejeitar toda forma de exclusão”, afirmou em um de seus discursos sobre o pacto educativo. Sua insistência em uma “cultura do encontro” revela o quanto ele acreditou que a educação tem o poder de curar feridas e construir pontes.
Mais do que um grande líder religioso, Francisco se revelou um educador global, que ensinou não apenas com palavras, mas, acima de tudo, com gestos, posturas e atitudes, lembrando-nos constantemente de que a educação deve formar “pessoas abertas, responsáveis e disponíveis para escutar e dialogar”.
Seu legado para os educadores é um convite à coragem: coragem de sonhar com uma escola mais humana, coragem de educar com amor, coragem de resistir à cultura do descarte. Como ele mesmo afirmou: “É necessário um compromisso renovado para uma educação que envolva todas as dimensões da pessoa: mente, coração e mãos”.
Seu chamado educativo permanecerá em construção. É um processo vivo, fecundo, que se estende muito além do Vaticano. Ele ecoa nas escolas, nas universidades, nas comunidades, nas famílias. É um chamado a todos nós: sermos educadores do amor, artesãos da paz, semeadores de esperança. E, acima de tudo, a lembrança que um Deus que é amor nos convida a fazer da educação um ato de misericórdia e um instrumento de justiça.
Educador e coordenador da Rede de Educação Missionárias Servas do Espírito Santo.