Como resposta a escândalos que envolveram a Igreja Católica em casos de abuso sexual de crianças e adolescentes, o Papa Francisco convocou um encontro com os presidentes das conferências episcopais, superiores-gerais de congregações religiosas e outras autoridades para discutir “A proteção dos menores na Igreja”. O evento, realizado no Vaticano, de 21 a 24 de fevereiro, conta com um total de 190 participantes.
Para esse encontro, o Papa pede orações, pois é importante que a Igreja enfrente essa situação, uma vez que, “Se algum membro sofre, todos os membros sofrem juntos” (1Cor 12,26). Segundo o Papa, será “um encontro em solidariedade, humildade e penitência”, e “o compromisso de proteger menores tem de ser assumido, clara e efetivamente, pela comunidade inteira, começando com os que estão nas mais altas posições de responsabilidade”.
O Papa Francisco insiste que o abuso sexual de crianças e adolescentes é gravíssimo e tem de ser enfrentado em todos os seus aspectos. Ele acrescenta que a Igreja assumiu ficar, acima de tudo, em solidariedade às vítimas, às suas famílias e às comunidades feridas pelos escândalos.
Esse encontro é muito importante para que toda a Igreja tome consciência da gravidade do problema e as medidas necessárias para garantir que as crianças sejam, de fato, protegidas do abuso sexual e de suas consequências físicas, morais e psicológicas.
A Coordenadora-Geral das missionárias servas do Espírito Santo, Ir. Maria Theresia Hörnemann, como membro do Conselho da União Internacional das Superioras-Gerais (UISG), também participa do encontro e pede a todas as irmãs, amigos e colaboradores na missão que, com orações, apoiem o evento.
Gravidade do problema
Os escândalos ocorridos na Igreja é apenas a ponta de um problema ainda mais amplo que afeta a sociedade como um todo. Por tabu, o abuso sexual de menores ficou escondido durante muito tempo, mas está presente em praticamente todas as culturas e sociedades, e só recentemente vem sendo estudado.
As estatísticas divulgadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e UNICEF, entre outras, embora assustadoras, não representam a verdadeira extensão dos abusos. Isso porque uma em cada três vítimas não conta para ninguém, seja por medo, vergonha, culpa, confusão ou desconfiança nas instituições.
Aqui apresentamos alguns dados baseados em pesquisas:
Em 2017, segundo dados da OMS, até 1 bilhão de crianças sofreram violência física, emocional ou sexual. O abuso sexual (de “passar a mão” a estupro), de acordo com algumas estimativas da UNICEF de 2014, afetou mais de 120 milhões de crianças. Em 2017, quase 17 milhões de mulheres adultas admitiram terem sido forçadas a ter relacionamento sexual durante a infância. Isso em 38 países de renda baixa e média. Só na Europa, em 2013, a OMS estimou que quase 18 milhões de bebês haviam sido vítimas de abuso sexual.
Na Índia, entre 2001 e 2011, o “Centro Asiático de Direitos Humanos” registrou um total de 48.338 casos de estupro de menores, com um aumento de 336%: de 2.113 casos em 2001 para 7.112 casos em 2011. Nos Estados Unidos, dados oficiais do governo informam que mais de 700 milhões de crianças são vítimas de violência e abuso a cada ano.
Mas, afinal, quem comete o abuso contra tantas crianças e adolescentes? O mais preocupante é que, em nível global, esses crimes são cometidos principalmente por pais, parentes ou professores. De acordo com dados do UNICEF relativos a 2017, em 28 países, de cada dez adolescentes que relataram relações sexuais forçadas, nove revelaram serem vítimas de pessoa conhecida ou próxima.
Irmã Ana Elídia Caffer Neves, SSpS
Jornalista, membro da Equipe de Comunicação Congregacional e coordenadora de Comunicação da Província Stella Matutina (BRN)