Não é pesadelo… O tráfico de pessoas existe!

O ano era 2050. Uma curiosa neta puxava conversa com a avó, que já beirava os 90 anos. Ela perguntava sobre a vida nos idos dos anos 2020, sobre como era a realidade naquele período. De memória muito ativa, vieram à idosa as lembranças da pandemia da covid-19 e das manifestações nas ruas e também sobre…

Imediatamente, a neta interrompeu a avó: “Não, Vovó, me fale sobre o tráfico humano, o tráfico de pessoas no Brasil e no mundo. Vovó, também quero saber se antigamente havia situação de trabalhadores que se encontravam em situações análogas ao trabalho escravo”.

A avó não conseguia conectar na lembrança nada além de uma Campanha da Fraternidade e alguns fatos isolados que ganhavam repercussão. Não sabia o que dizer. Estava perplexa e seguia revirando memórias diante do que parecia uma natureza oculta de crimes contra a humanidade.

E a neta seguia falando: “É que está chegando o dia 30 de julho, Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas, e o professor disse que é uma realidade criminosa que ‘ceifa a vida e os sonhos de milhares de pessoas em todo o planeta’. Ele disse ainda que pessoas e redes criminosas se ‘aproveitam das vulnerabilidades e pobreza de pessoas e oferecem falsas promessas de vida melhor, mas o que querem mesmo é lucrar e tratam pessoas como mercadoria’.”

O requinte de crueldade seguia no relato da neta e calava a avó. A menina, com um tom de perplexidade, ia dando detalhes das armadilhas da realidade que envolviam “conflitos armados e crises humanitárias que sujeitam as pessoas a um maior risco de serem traficadas para exploração sexual, trabalho forçado, remoção de órgãos, servidão e outras formas de exploração”.

Era uma espécie de globalização da indiferença, como dizia o Papa Francisco em algum momento, concluía a idosa que, àquela altura, aprendia o que não quisera enxergar no passado. Parecia um pesadelo, um filme de terror… A vida humana desfilando, como se mercadoria fosse, na vitrine do mundo.

De repente, um som de latidos inundou o ar e acordou a idosa, que despertou sobressaltada. Olhou em volta, meio atordoada, e se deu conta de que estava sonhando, ou melhor, tendo um pesadelo.

O ano era 2021. Tomou consciência de que ainda não tinha uma neta, sua pele não estava tão enrugada, o cabelo inaugurava um discreto grisalho, as pernas ainda estavam firmes e, de fato, a quinquagenária senhora pouco ou nada conhecia do assunto.

Relendo documentos de 2014, encontrou uma importante reflexão no material da Campanha da Fraternidade contra o Tráfico Humano, quando a Igreja do Brasil afirmava que “O tráfico humano é um crime que atenta contra a dignidade da pessoa, pois explora o filho e a filha de Deus, limita suas liberdades, despreza sua honra, agride seu amor-próprio, ameaça e subtrai sua vida, quer seja da mulher, da criança, do adolescente, do trabalhador ou da trabalhadora”. Essa deplorável conduta explora e atenta contra a dignidade “de cidadãs e cidadãos que, fragilizados por suas condições de vulnerabilidades, se tornam alvos fáceis para as ações criminosas de traficantes”.

Ela aprendeu que estruturas e formas perversas de exploração de seres humanos são combatidas com “ação firme de denúncia e intervenção solidária, político e profética”. E, como alicerce, sempre será necessária a “promoção de transformações sociais estruturais, visando à construção de uma economia e de uma sociedade que promovam a justiça, inclusive ambiental”.

Além de “mobilizar a opinião pública mundial contra o tráfico de pessoas, identificar e denunciar práticas de tráfico humano em suas várias formas, é necessário prevenir por meio de ações educativas e ampliação do acesso à informação junto ao público de crianças e adolescentes”.

Muito a se fazer para que o futuro não nos encontre desavisados.

Não era pesadelo… O tráfico de pessoas existe e precisa ser enfrentado para acabar!

Maria José Brant (Deka), assistente social, analista de políticas públicas na Prefeitura de Belo Horizonte-MG, mestra em Gestão Social, mosaicista nas horas vagas.






Saiba mais enquanto há tempo
Denuncie e consulte as referências: 

Disque 100: canal da Secretaria de Direitos Humanos
Ligue 180: canal da Secretaria de Políticas para as Mulheres


Coordenação de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria Nacional de Justiça: traficodepessoas@mj.gov.br 

Correio eletrônico de denúncia à Polícia Federal: urtp.ddh@dpf.gov.br

Nota sobre trabalho escravo, publicada pela Pastoral da Terra e a Comissão contra o Tráfico Humano [link: https://www.cnbb.org.br/pastoral-da-terra-e-comissao-contra-o-trafico-humano-lancam-nota-sobre-trabalho-escravo/]

Em carta pastoral, Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano convoca à ação [link: https://www.cnbb.org.br/em-carta-pastoral-comissao-para-o-enfrentamento-ao-trafico-humano-convoca-a-acao/]

Campanha Coração Azul no Brasil [link: https://www.unodc.org/blueheart/pt/a-campanha-no-brasil.html]

Campanha da Fraternidade 2014 [link: https://www.cnbb.org.br/campanha-da-fraternidade-2014/]

Mensagem do Papa Francisco para a Campanha da Fraternidade 2014 [link: https://www.cnbb.org.br/papa-francisco-envia-mensagem-para-a-campanha-da-fraternidade-2014/]

Número de vítimas de tráfico num ano ultrapassou 50 mil no mundo [link: https://news.un.org/pt/story/2021/02/1740252]

O desafio do combate ao tráfico de pessoas [link: https://blog.ssps.org.br/o-desafio-do-combate-ao-trafico-de-pessoas]

Rede um Grito pela Vida: “Enfrentar o tráfico de pessoas é nosso compromisso” [link: https://blog.ssps.org.br/rede-um-grito-pela-vida-enfrentar-o-trafico-de-pessoas-e-nosso-compromisso]

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