Juan Tapia Contreras é um jovem chileno, missionário do Verbo Divino (verbita). A congregação, conhecida pela sigla SVD, é um dos ramos da Família Arnaldina, a primeira a ser fundada por Santo Arnaldo Janssen.
Atualmente, João, como quis ser chamado no Brasil, estuda filosofia no Instituto Santo Tomás de Aquino (ISTA), em Belo Horizonte-MG. Apoia os trabalhos das Casas do Homem de Nazaré e, nos fins de semana, colabora com a pastoral na Paróquia São Gabriel, no bairro Taquaril, na capital mineira.
Na entrevista concedida ao também verbita Pe. Arlindo Pereira Dias, da Rede Rua, o missionário partilha um pouco de sua experiência junto ao povo da rua, em 2021. João participou em um projeto de distribuição de alimentos realizado em São Paulo-SP, durante a pandemia de covid-19, coordenado pela Rede Rua.
Rede Rua: Quem é Juan René Tapia Contreras?
João: Chegando aqui no Brasil, eu quis ser conhecido como João, para facilitar um pouco a vida de todos e também a minha. Percebi que ajudaria no nosso relacionamento. Eu acredito profundamente que, quanto mais familiar e mais próximo eu estiver das pessoas, mais ajudará minha vida pastoral, minha caminhada. Falo assim porque eu sou um religioso da Congregação do Verbo Divino. Sou chileno e estou aqui no Brasil há quase quatro anos. Cheguei em 2019, para fazer uma etapa que nós chamamos de noviciado. Depois de um ano de experiência muito profunda na oração, na contemplação e no conhecimento da Congregação do Verbo Divino, comecei a estudar Teologia em São Paulo. Nessa caminhada, na Teologia, pude também conhecer as pessoas em situação de rua. Então comecei a fazer uma pastoral muito bonita nessa área.
Rede Rua: Por que você decidiu continuar no Brasil?
João: Eu fiquei no Brasil, depois do noviciado, por uma razão muito prática, e que também tem raízes bem profundas. Na prática, é que, no Chile, eu não tinha mais a possibilidade de estudar Teologia. A nossa Congregação estava para fechar a casa de Teologia. Portanto eu não teria condições para voltar para o Chile. Diante dessa situação, eu fiquei como “sem-casa”, sem pátria para poder continuar minha formação. Mas aí eu vi também a vontade de Deus em poder decidir livremente o lugar que eu poderia ficar. Na verdade, eu tinha opções, porém eu decidi pelo Brasil devido à necessidade de continuar uma busca que eu tinha iniciado lá no noviciado. A busca de estar ao lado, de estar junto aos menos favorecidos da sociedade. Vi essa possibilidade aqui no Brasil, como poderia ser em qualquer parte do mundo, mas eu tinha tido a experiência aqui no Brasil, a qual era muito mais forte e muito mais dilacerante em relação à realidade do povo. Por isso eu decidi fazer minha formação aqui, transformando em prática o que entendia por Teologia.
Rede Rua: Como você foi ao encontro do povo da rua?
João: Conhecer as pessoas em situação de rua, o povo da rua, era um anseio bem profundo que começou a surgir na mesma época do noviciado. No Chile, eu morava em Santiago e, durante minha formação, havia muitas pessoas em situação de rua, que sofriam bastante. Mas, para mim, isso era uma realidade paralela, uma realidade que não me tocava. A partir da experiência que eu vivi no meu primeiro ano aqui no Brasil, isso me transformou. Era uma experiência espiritual que tinha que se concretizar. Uma experiência que surgiu da oração e tinha que se fazer ação, que tinha que se fazer vida. Eu me lembro de que a experiência mais marcante para chegar à rua, depois dessa experiência de oração, experiência mística, foi conhecer um casal na rua, que se aproximou de mim. Eu mal falava o português e, pior ainda, não entendia quando eles me falavam. Porém eu tive uma atitude de escuta para com esse casal que encontrei na Chapelaria Social da Rede Rua, em 2019. Eles estavam passando e, por acaso, a mulher começou a contar um pouco da vida dela, das perdas que teve, dos filhos e de como chegou à rua. Isso me tocou tanto que, mesmo não compreendendo tudo o que ela me falou, ficou em minha memória e coração. Quando a gente se despediu, foi com um abraço. Ela falou que iria orar por mim, ele também. Isso me marcou bastante, porque, apesar de não nos conhecermos, não ter entendido muito do que eles me falaram, eu tive uma atitude de abertura para com eles. Eu senti que eles também se entregaram para mim. Isso mudou a minha compreensão das pessoas e do mundo daqueles que vivem em situação de rua.
Rede Rua: A pandemia o aproximou da população de rua? Como?
João: A pandemia, para todos, foi uma situação bem complexa e bem difícil, que nos levou a entrar em nós mesmos. No meu caso, a pandemia me ajudou a pensar mais em mim, coisa que eu normalmente não fazia. Isso teve um efeito contrário. Eu entrei e comecei a pensar mais em mim, comecei a me preocupar mais comigo. Lá dentro, eu percebi que eu tinha que sair de mim mesmo. É interessante, porque, antes da pandemia, eu fazia muita atividade, muita ação social. Mas hoje, olhando para trás, eu vejo que tudo isso é ativismo, que faz bem para muitas pessoas, que são ajudadas, mas, para mim, não era o melhor. Então, quando veio a pandemia, fiquei muitos meses fechado, trancado em casa. Eu percebi que eu precisava sair de mim mesmo. Então foi um duplo movimento: um de entrada e um de saída de mim. Nesse movimento de saída, eu percebi que muitas pessoas precisavam de alguém que as escutasse, de alguém que estivesse perto. Eu sabia que, entrando na rua, chegando à rua, eu não iria mudar a vida ou a realidade que eles estavam vivendo, e que ainda continuam vivendo. No entanto, eu sabia que, pelo menos, iria tocar ou atingir o coração de uma pessoa, ou de algumas pessoas. Isso me motivou, no contexto da pandemia, a quebrar essas fronteiras, a pular esses obstáculos. Mesmo com o medo, não só da pandemia, mas também de chegar a uma realidade que eu não conhecia, me aventurei a trabalhar, a colocar tudo à disposição, a aprender daqueles já tinham iniciado essa caminhada e levaram anos fazendo-a. Aprender com eles e com as pessoas da rua, e tentar partilhar um pouco daquilo que eu sei.
“Eu tinha que sair de mim mesmo.”
Rede Rua: Como surgiu a ideia de se juntar aos projetos da Rede Rua?
João: Para ter uma formação integral na nossa casa de formação, além da vida acadêmica e da vida comunitária, da vida espiritual de todo dia, da oração, da liturgia, precisamos fazer um trabalho pastoral. Normalmente, em nossa Congregação, esse serviço pastoral se faz nas paróquias. Isso é o normal, mas não é exclusivo. Quando chegou o momento de eu decidir em qual dessas paróquias eu faria a minha formação pastoral, no ano 2021, eu conversei com meu formador para ver outra possibilidade, de sair do mundo paroquial. Eu tinha feito muitos trabalhos, muitos serviços, ministérios, catequese, tanto no noviciado como durante a minha vida antes de entrar no seminário. Eu queria, entre aspas, mudar um pouco a minha escolha pastoral. Isso foi uma surpresa para a casa de formação, para os formadores, porém uma surpresa positiva. O formador então comentou que éramos livres para escolher, embora não se oferecesse esse tipo de pastoral tão específica como a pastoral do povo da rua, porque isso tem que nascer dos formandos. Acho que foi isso mesmo. Foi um desejo, um anseio que surgiu lá no noviciado e foi amadurecendo com a pandemia, no ano de 2020. No fim daquele ano e começo de 2021, desabrochou. Assim, apresentei o meu pedido, o qual foi aceito pela casa de formação e acolhido pelas pessoas da equipe da Rede Rua, pelo padre Arlindo e o irmão Domingos, que estavam na frente dessa pastoral e que me acolheram tão bem.
Rede Rua: Como era a experiência na Quadra dos Bancários, no trabalho? O que você fazia? Quais atividades você desenvolveu ao longo do ano?
João: A minha experiência na Quadra, no projeto “Alimentar direitos”, como alguém falou, era uma festa. Trabalhar no sábado e domingo, e, também, lembro que eu tentei acompanhar a Semana Santa toda, quase dez dias, porque eu me sentia vivo. Eu me sentia cheio de um espírito diferente. Até que me pediram que ficasse na coordenação, aos sábados e domingos. Isso já mudou um pouquinho, porque eu não estava tão disponível para servir sopa, como a gente fazia no começo, para entregar talheres ou para organizar as cadeiras, além de acompanhar e escutar as demandas do povo. Isso exigia um trabalho a mais, um trabalho de coordenação de equipe, coordenação de voluntários, de funcionários, além de tratamento com os restaurantes, com as pessoas, com nossos conviventes. Isso exigiu muita coisa, que eu não sabia se daria conta. Graças a Deus, a equipe com a qual eu trabalhava, sábado e domingo, era tão boa que o ambiente ficou bem leve. Era uma festa! A gente fazia um trabalho bem profissional. Às vezes, eu ficava bravo, porque nem todo mundo fazia as coisas do jeito que eu pensava que deveria ser feito. Mas, no fim das contas, tudo dava certo, e as coisas caminhavam como deveriam. O que mais eu destaco, além das atividades de coordenação, de entregar as marmitas, de escutar o povo, de direcionar e encaminhar os diferentes atendimentos que a gente faz aqui, foi construir uma família, uma comunidade. Obviamente não fui o único, mas fomos muitos, e todos que colocamos nossa parte para que o trabalho na Quadra, o projeto “Alimentar direitos” fosse e ainda seja uma comunidade, perguntando sobre os anseios uns dos outros, rezando uns pelos outros. Quando alguém ficava doente e não aparecia, a gente se preocupava. Também celebrando os aniversários, ajudando, trazendo presentes. Uma coisa muito bonita aos domingos. Aqui era um banquete! Os funcionários, os trabalhadores, os voluntários, todos terminavam o nosso serviço e o nosso trabalho com alegria, e aqui virava um banquete. Sempre alguém doava sorvete, outro trazia refrigerante, e todo mundo cantava. O domingo era uma festa e alegria para nós.
“Eu me sentia cheio de um espírito diferente.”
Rede Rua: O que mais o impactou na rua?
João: Tem muita coisa na rua que me impacta muito, ainda hoje. As pessoas que estão sozinhas, muita solidão; pessoas doentes que não têm um atendimento oportuno e efetivo. Pessoas doentes no sentido físico, feridas, a violência, a delinquência, muito dependente químico. Muitas pessoas têm que se alcoolizar, lamentavelmente, para poder esquecer muita coisa, para poder esquecer a fome, etc. Mas acredito que o grande impacto que ainda hoje me surpreende e me deixa muito machucado é o descaso da sociedade. Eu falo da sociedade, não das pessoas. Existem muitas pessoas boas, equipes da Igreja, famílias, grupos de amigos, associações, ONGs, etc. que trabalham e fazem muitas atividades para as pessoas que mais sofrem. Falo da sociedade como um conjunto, onde temos aqueles que mandam, aqueles que governam, aqueles que tomam decisões e aqueles que, como massa, acompanham tudo isso. E, contribuímos, lamentavelmente, para que poucos tenham muito e muitos não tenham nada. O que mais me impacta é isso, principalmente o descaso da sociedade e das pessoas do mundo moderno, como disse o Papa Francisco. Ele fala da cultura do descartável, as pessoas são descartadas igual a um copinho plástico que a gente usa só uma vez e joga no lixo.
Rede Rua: Nessa jornada, o que foi mais impactante, o que foi mais emocionante e o que foi mais desafiador para você?
João: Mais desafiador, em todo esse tempo, eu acredito que é tentar ser uma ponte para que diferentes mundos, diferentes pessoas se encontrem. Eu considero cada pessoa como um mundo diferente. Todos nós temos ideologias, crenças, sentimentos. Vejo tanta coisa rolando aqui e ali. Tentar ser uma ponte para que esses mundos possam se encontrar e possam se entender. Acho que o mais desafiador foi isso. Falando das pessoas em situação de rua, que são 300, 400, 800 realidades, considerando todos os que vinham para cá: 500, 600 e 200 pessoas, e os outros 20, 30 mundos que eram nossos funcionários e voluntários. Cada um trazia dentro de si problemas, alegrias, tristezas, debilidades, fortalezas e habilidades. Eu, de alguma forma, me via como uma ponte para que todos pudessem entrar em comunicação, em contato. Penso que foi o mais desafiador, porque todo dia eu tinha que chegar com um sorriso grande e tentar transmitir também essa alegria a todo mundo. Vamos encorajar-nos para cada um continuar o nosso trabalho, acho que isso foi mais desafiador e continua a ser. O mais bonito, emocionante, diz respeito às poucas crianças que chegam aqui. Porém, eu vejo no rosto da criança que está aqui, criança que mora na rua, que, desde uma idade muito nova, 3 a 4 anos, às vezes, neném, chegam aqui com as famílias; ver o sofrimento deles. Mas, quando as recebemos, tentamos providenciar um brinquedo, uma bexiga ou até mesmo uma marmita, que sempre é entregue com todo o carinho. O sorriso no rosto dessa criança era um reflexo muito natural de que a bondade do ser humano ainda existe. Eu acredito que isso era o mais bonito para mim. Tentar ver as crianças aqui, tentar ver isso neles, e acreditar que o futuro delas pode e deve ser diferente em relação ao presente que hoje eles estão vivendo.
Rede Rua: Olhando a realidade brasileira e da América Latina, por que tanta gente na rua?
João: Olhando a realidade brasileira e da nossa América Latina, eu percebo, eu me dou conta de que, lamentavelmente, trocamos o nosso Deus. Trocamos o Deus de amor, o Deus de compaixão, o Deus da vida, que muitos dizemos acreditar. Trocamos pelo deus do egoísmo, da cobiça, da ganância e do dinheiro, do mercado; às vezes, de forma inconsciente. Eu me lembro de que, quando fiz o último exame na Faculdade de História e Ciência Política, o professor de História Econômica Social me perguntava: defina neoliberalismo. Eu comecei a dar uma definição técnica. Quando terminei, ele falou: “Mas você está me descrevendo uma divindade. Você está dando as características de um deus”. Eu falei: é isso mesmo. O neoliberalismo, o mercado, é, para nós consumidores, um deus que nós cultuamos. Vamos atrás dele e nos esquecemos de que o outro que está do nosso lado, aquele que está à nossa frente, o nosso familiar, a pessoa que está na rua é uma pessoa de fato. Vemos cada um deles por aquilo que vale economicamente, materialmente. Se não vale, a gente não se interessa, não se importa com a pessoa. Acho que, desde os governos, cuja ideologia neoliberal é marcadíssima, até o último de nós na hierarquia social, lamentavelmente, estamos imbuídos neste sistema e colaboramos para a sua permanência. Muitos de nós queremos acabar com ele… Só que sabemos que ele está tão presente nas nossas vidas, e talvez pode ser irresponsável o que vou dizer agora, o sistema econômico está tão presente nas nossas vidas quanto o fascismo e o nazismo estavam presentes na vida das pessoas da Alemanha e da Itália na época dos extermínios de milhares de pessoas… Totalitarismos tomavam conta de tudo. Acho que o neoliberalismo é um novo totalitarismo que toma conta da vida de todos. E quer simplesmente dizer quais são as regras no jogo da vida, na esfera civil, na esfera política, na esfera econômica e até na vida privada das pessoas.
“O neoliberalismo é um novo totalitarismo que toma conta da vida de todos.”
Rede Rua: Da sua experiência aqui nesta quadra, todos os dias, com as pessoas mendigando uma marmita a cada dia, o que o povo da rua esperaria da Igreja?
João: O povo da rua, não só eles, mas considerando a experiência que eu vivi, o povo da rua espera que a Igreja seja como Jesus queria: uma Igreja próxima, uma Igreja samaritana, uma Igreja perdoadora, uma Igreja misericordiosa. Isso significa que, em termos concretos, a Igreja, aqui estou falando da Igreja hierárquica, a Igreja povo de Deus, a Igreja comunidades eclesiais de base, a Igreja todos nós batizados, deveríamos estar próximos. Isto é, sair do nosso comodismo, sair dos nossos templos, para nos aproximar das pessoas que estão lá fora. Há uma parábola muito interessante que é a do rico e do pobre Lázaro. Eu vejo, nessa passagem, a imagem da Igreja. O rico todo dia tem festa e, na Igreja, todo dia tem festa. A Eucaristia é uma festa, os sacramentos são uma festa, os nossos encontros comunitários são uma festa. Deus não proíbe isso. Deus, de fato, quer festa. Nas Bodas de Caná, Jesus queria estar na festa e celebrar com todo mundo, comemorar. Só que o rico estava lá, e nós, que somos ricos, estamos lá celebrando, cheios de Deus. Mas, em nossa porta, temos pessoas que não conseguem entrar nesta comunidade, não conseguem fazer parte desta comunidade. Há um canto, aqui no Brasil, que diz “Entra na roda com a gente”. A Igreja deve sair de si mesma, não para levar as pessoas da rua para dentro da Igreja. A Igreja deve sair de si mesma para levá-la ao mundo, que era o que Jesus dizia. O que Jesus pediu: “Ide pelo mundo e anunciai o Evangelho”. Ide pelo mundo afora significa sair de onde nós estamos para estar com as pessoas da rua. E não só com as pessoas da rua, mas com todo mundo, com aquele que pensa diferente, com aquele que celebra tudo errado na liturgia, com aquele que não sabe definir os dogmas, com todo mundo. Todo mundo tem que estar “na roda”, porque Jesus veio para isso. A Igreja deve ser próxima, a Igreja deve sair, a Igreja deve, urgentemente, quebrar todas essas estruturas caducas, como já dizia o Documento de Aparecida, em 2007. Estruturas caducas que impedem a Igreja ser o que Jesus quer dela: uma Igreja missionária, uma Igreja samaritana, servidora e misericordiosa. Isso é um recado para os pastores, para os religiosos, as religiosas, seminaristas, catequistas, pais, mães de família, pessoas que se preparam para os sacramentos. É um recado para todo mundo. Todos nós devemos estar lá fora. Só quando vivermos o sofrimento das pessoas, só quando conhecermos, conversarmos e sermos empáticos com elas, celebraremos juntos. A Eucaristia é, numa comparação, a cereja do bolo na festa. A Eucaristia é isso, tudo o que já fizemos com aquele que sofre, que também é Eucaristia, que também é partilha, que é ação de graças, que é sacrifício de Cristo, é comungar com o corpo de Cristo que é o pobre, identificar-se. Quando fizermos tudo isso de fato, me atrevo a dizer, que já estamos celebrando a missa.
“O povo da rua espera que a Igreja seja como Jesus queria.”
Rede Rua: O jovem Juan Tapia tem sonhos. Quais são?
João: Uuuhhh! Eu vou dizer só um sonho que eu tenho. Lembro-me de que, quando me perguntaram se eu tinha sonhos a primeira vez, acho que eu tinha 14 anos. Eu estava nas Pontifícias Obras Missionárias, na Infância Missionária, lá no Chile, na minha comunidade. Um dos catequistas me perguntou: qual o teu sonho? Eu respondi: o meu sonho é que todo mundo, todos conheçam a Boa Notícia. Esse é o meu sonho. Só que, naquela época, eu tinha uma compreensão de adolescente sobre a Boa Notícia. Hoje eu tenho uma compreensão totalmente radical da Boa Notícia. Para mim, a Boa Notícia é que todos tenham vida, e vida abundante. E não estou falando da vida eterna simplesmente, o que já é muito. Estou falando, primeiro, da vida aqui, que todos tenhamos vida e vida abundante. Essa é a Boa Notícia! Aquele que sofre, aquele que está na rua, aquele que precisa de uma cadeira de rodas, aquele que precisa de uma bengala para caminhar, aquele que precisa de uma marmita, aquele que precisa de um chinelo para não andar descalço na rua. Uma Boa Notícia para ele é dizer: eu tenho um chinelo para você, eu tenho uma bengala, eu tenho uma marmita, para que a sua vida seja mais digna. Daí parte o anúncio da Boa Notícia, com boas e pequenas notícias no cotidiano. Aí Jesus aparece em tudo isso!
Entrevista feita pela Rede Rua, editada para o blog das SSpS Brasil.
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Juan Tapia Contreras é um jovem missionário do Verbo Divino. No Brasil ele preferiu ser chamado de João. Atualmente estuda filosofia no ISTA (Instituto São Tomas de Aquino), em Belo Horizonte. Apoia os trabalhos das Casas do Homem de Nazaré e, nos finais de semana, colabora com a pastoral, na paroquia S. Gabriel, no bairro Taquaril em Belo Horizonte. Na entrevista a seguir ele partilha um pouco de sua experiencia junto ao povo da rua no ano de 2021, em um projeto de distribuição de alimentos durante a pandemia COVID 19, coordenado pela Rede Rua.