É preciso acreditar e apostar na transformação em nós mesmas como inspiradora e fundamento para a transformação da Congregação e do mundo. Mudanças exteriores, para que tenham solidez, devem ser sustentadas por mudanças interiores. Gandhi dizia: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.
O cultivo da interioridade esteve presente em muitos tempos e lugares, assim como em nossa tradição cristã, do Antigo ao Novo Testamento, na pessoa de Jesus, nos Padres e Madres do Deserto, e nas formas de vida contemplativa. Hoje, também em espaços não religiosos, percebe-se uma forte busca e cultivo da interioridade como caminho para o encontro com outras pessoas, com a criação e com Deus. Essa busca é um movimento de afastar-se do mundo não para fugir dele, mas para voltar a ele transformada.
A interioridade é a possibilidade de experimentar que algo em nós pode se transformar e irradiar-se para fora de nós. É um convite para nossa alma encontrar-se consigo mesma e ancorar suas convicções. É como acolher que o Espírito de Deus renove e recrie constantemente a face da terra humana que sou, que somos.
O caminho da interioridade está profundamente conectado com o que somos chamadas a fazer em prol da paz, da justiça e da dignidade para todos. Esse caminho nos dá autoridade, a partir de dentro de nós, para nos aproximar do que está fora, com coerência e respeito pela dignidade de cada ser, com suas caraterísticas próprias. Difere da autoridade formal, externa, que, por ocupar cargos e funções, orienta os comportamentos a serem seguidos.
O caminho da interioridade ainda nos permite perseverar em meio às dificuldades; purifica nossas aspirações e nos torna mais coerentes com os valores que buscamos construir. Assim, nosso serviço e nossa vida em missão partem do fundo de nosso ser, o que nos possibilita escutar também os desafios que vêm de fora.
O fazer coisas marcou nossa trajetória e identidade ao longo de muitas décadas. Com o olhar para a interioridade, surge outra compreensão. Franz Jalics, SJ, falecido recentemente e conhecido pelos retiros contemplativos, observou: “Aqui passam muitas religiosas e pessoas de igreja que fazem muitas coisas para Deus, porém lhes falta viver em Deus”. Hoje, entendemos que a missão é de Deus e essa expressão de Jalics é uma orientação para encontrarmos o caminho rumo à transformação que procuramos.
Podemos também olhar para o mandamento de amar o próximo como a nós mesmas. Amar o próximo, externo a mim, sempre foi para nós um dever. Esforçamo-nos para amar os outros sem entender a importância de amar a nós mesmas. Quando começamos a entrar mais conscientemente na dimensão da interioridade, vamos descobrindo que amar a nós mesmas é o caminho para amar o próximo. Se esse caminho nasce dentro de nós, esse amor ao próximo já não é mais um dever de fora, mas é uma entrega que flui da vida que está dentro de nós.
Adentrar-nos em nosso ser profundo é uma conquista que pede muita atenção e cuidado para ir além de nossa identidade construída por papéis sociais, aparências, aprovações, interesses e rótulos construídos em torno de uma imagem idealizada de nós mesmas. Facilmente nos apegamos a essa imagem e nos confundimos com ela. Convém lembrar que o Evangelho nos chama a morrer para essa imagem idealizada, como o grão de trigo que morre para germinar e dar fruto.
Nosso ser profundo nos abre a Algo Maior que ultrapassa as imagens e compreensões de nós mesmas. Aproxima-nos da grandeza que nos habita e na qual somos, vivemos e existimos.
Uma imagem desse ser profundo pode ser a do tesouro escondido, da pérola preciosa de que nos fala o Evangelho. Vender tudo, desapegar-nos de tantas coisas é o caminho do seguimento a que somos chamadas. Em Jesus Cristo, encontramos o caminho para transformar e transformar-nos pelo Sopro Divino, Divina Ruah.
Para saber mais
Parte 2: Geração Fundacional como inspiração de transformação
2025 será o Ano da Transformação
Irmã Martina Maria Gonzáles García, SSpS
Província Brasil Norte