Em um arquipélago de montanhas sagradas, templos milenares e paisagens deslumbrantes, o Japão revela uma rica tapeçaria cultural onde a música e a espiritualidade se entrelaçam. Com sua beleza natural exuberante, o país oferece um cenário inspirador para a prática espiritual e a busca pela harmonia entre o homem e a natureza.
A música japonesa, conhecida por sua riqueza e profundidade, carrega séculos de história, unindo elementos espirituais e sociais que refletem a relação única que os japoneses mantêm com suas artes. Desde as canções populares regionais até a música clássica tradicional, como o gagaku (música da corte imperial) e o koten (erudito), a música no Japão vai além de mero entretenimento, pois mistura a concepção e o sentimento de “ritual” e “utilidade”, próprios dessa cultura (algo estranho aos ocidentais).
Em cerimônias, como casamentos, matsuris (festivais) e celebrações sazonais, a música assume o papel de ponte entre o presente e o passado, quando sons ancestrais reverberam em templos e ruas, ecoando memórias de épocas antigas, ao mesmo tempo em que melodias modernas das avenidas e lojas movimentadas de grandes cidades demonstram a coexistência com o contemporâneo. Em festivais tradicionais, como o Obon (Finados) e o Hanami (contemplação das cerejeiras em flor), a música desempenha um papel central, sendo executada para acompanhar danças, rituais e momentos de reflexão. O ritmo e a harmonia são, muitas vezes, pensados para criar uma sensação de união e equilíbrio, características essenciais da filosofia japonesa de bem-estar coletivo, inspiradas pelo confucionismo e pelo budismo.
Nas áreas rurais, a música continua sendo uma força vital, mantendo vivas as canções folclóricas e as performances musicais tradicionais. O enka, por exemplo, gênero musical de grande popularidade, expressa as lutas e esperanças do povo, refletindo suas emoções e aspirações. As canções falam de amor, perda e resiliência, ecoando sentimentos universais que transcendem as fronteiras culturais.
No cotidiano, a música japonesa também se manifesta de forma sutil, quase como uma extensão do ambiente natural. Em um passeio pelos jardins ou em uma visita a um templo, não é incomum ouvir o som do koto (cítara) ou do shakuhachi (flauta de bambu), instrumentos tradicionais que imitam o sopro do vento ou o som das águas correntes. Até mesmo nas cidades, a música, seja ela pop, eletrônica ou tradicional, é usada para harmonizar os espaços urbanos, criando uma atmosfera tranquila em meio ao ritmo acelerado da vida moderna.
Dessa forma, a música na cultura japonesa não é apenas uma forma de expressão artística, mas um elo que conecta as pessoas entre si e com a atmosfera. Ela age como um meio de meditação, introspecção e, ao mesmo tempo, celebração da vida em sua forma mais original.
Nesse país, onde a música serve como um canal profundo de espiritualidade e conexão com a natureza, as irmãs missionárias servas do Espírito Santo (SSpS) iniciaram sua jornada em 1908. Representa um desafio singular a tarefa de difundir o catolicismo por meio de ações de caridade, em um contexto predominantemente xintoísta e budista, onde menos de 0,5% da população adere à fé católica.
Apesar desse cenário, as comunidades católicas atuam em diversas frentes sociais, sendo uma delas as instituições educacionais que, por sua grande influência, destacada em universidades como a Sophia de Tóquio, auxiliaram, após séculos de perseguição, no respeito ao catolicismo. O trabalho das irmãs nessa área se torna um importante veículo de anúncio da mensagem cristã e de diálogo intercultural e inter-religioso.
Outro fator importante que contribuiu para a boa relação da Igreja no Japão é o trabalho de muitas obras católicas de caridade presentes no país, como o exercido pelas SSpS em casas para idosos, em regiões periféricas. Essa atividade é fundamental, uma vez que a expectativa de vida do país é elevada. Em 2020, chegou ao patamar de 81 anos para homens e 87 para mulheres.
Além disso, houve dois eventos que tornaram a presença das ações sociais ainda mais relevante: o terremoto de Kobe, em 1995, e o terremoto e o tsunami catastrófico em Fukushima, em 2011, considerado o maior tremor de terra já registrado no território japonês, levando a um grande volume de perdas materiais e humanas: cerca de 20 mil pessoas morreram em razão desse tremor e suas consequências.
No contexto dessa catástrofe, as SSpS aliaram também seu trabalho à Cáritas do Japão, em Ishikawa e Fukushima. Trata-se de uma agência criada em 1970, como o órgão de trabalho do Comitê dos Bispos para Questões Sociais, com o objetivo de promover a colaboração entre grupos católicos de bem-estar social no país. Ao longo dos anos, a Cáritas Japão moldou seus objetivos para a assistência humanitária e ajuda de emergência a uma grande variedade de crises.
Hoje, a província do Japão da Congregação das Irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo abrange as localidades de Akita, Kanazawa, Toyota e Nagoya. Conta com 56 irmãs, com idades entre 30 e 90 anos, originárias de seis nacionalidades. A presença delas no país é um testemunho vivo da capacidade da Igreja Católica de se adaptar a diferentes contextos culturais e de responder aos desafios da sociedade contemporânea. Por meio de seu trabalho incansável, as irmãs contribuem para a construção de um mundo mais humano e fraterno, onde a fé e a solidariedade se unem em prol do bem comum.
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Saiba mais
A IGREJA Católica no Japão. In: Vatican News, 23 nov. 2019. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2019-11/papa-francisco-viagem-apostolica-japao-igreja-catolica-dados.html
CAMPOS, Mateus. Terremoto de Fukushima de 2011. In: Mundo Educação, s. d. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/o-terremoto-no-japao.htm#:~:text=O%20terremoto%20de%20Fukushima%20foi,da%20costa%20leste%20do%20Jap%C3%A3o
CARITAS. Where we work: Japan. Disponível em: https://www.caritas.org/where-caritas-work/asia/japan/
EXPECTATIVA de vida no Japão atinge idade recorde. In: Itiban, 5 ago. 2021. Disponível em: https://itiban.tur.br/2021/08/05/expectativa-de-vida-no-japao-atinge-idade-recorde/
LANDY, Pierre; VĂN KHÊ TRẦN. L’art musical selon Japonais. In: Musique du Japon. Paris: Buchet; Chastel, 1996. p. 23-37.
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Hilton Cassiano
Professor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas no Colégio São Lucas, em Embu das Artes-SP.
Natália Moura
Professora de Inteligência Espiritual e coordenadora da Dimensão Missionária no Colégio Espírito Santo, em São Paulo-SP.