A transformação que buscamos passa pela própria transformação interior que é habitada por sombras que pedem ser iluminadas. Somos seres vulneráveis. A fragilidade é um mistério que nos acompanha do nascimento até a morte. Deus assumiu nossa condição e se revelou frágil por amor, especialmente no mistério da Cruz. É à luz da presença amorosa de Deus que podemos perceber nossas sombras.
Guiadas por essa presença amorosa, precisamos tornar-nos próximas dessa vulnerabilidade que nos habita. Desse encontro, nasce nossa capacidade para as pequenas conquistas de liberdade que nos permitem fazer escolhas e responsabilizar-nos por nós e pelo mundo.
Em geral, carecemos de consciência sobre nossas estruturas mentais. Carregamos uma série de padrões, ideias, experiências herdadas ou geradas em nossa trajetória, que são ou foram úteis para a vida em determinado momento e contexto. Mas, quando essas estruturas se fixam em nós como absolutas e determinam nossas relações, precisam ser olhadas. Desvendar esses padrões, reconhecer e aceitar que fazem parte de minha personalidade pode evitar que eu seja escrava deles e que os imponha às outras pessoas e às outras criaturas, como se fossem absolutos.
O processo de se conhecer pede a coragem de não se esconder de si mesma e permitir que apareça a fragilidade, o autoengano, os medos, os subterfúgios da mente para proteger nossa imagem. O Evangelho nos exorta, uma e outra vez, para termos uma atitude vigilante, pois facilmente somos atraídas pelo egoísmo. Importante conhecer o inimigo que nos habita. Como dizia Gandhi: “Dos três grandes inimigos que tenho, a Inglaterra, meu povo e eu, o maior inimigo sou eu mesmo”.
De fato, ao mergulhar em nós mesmas, em nossa condição de seres humanos, encontramos luzes e sombras, capacidade de fazer o bem e, também, tendências para o mal. São Paulo se depara com essa realidade dentro de si: “Não faço o bem que eu quero, mas pratico o mal que não quero” (Rm 7,19). Levamos conosco a mistura de luzes e sombras, assim como nossas instituições.
Mas a vulnerabilidade não é nossa essência. O encontro com nossa fragilidade à luz do amor de Deus é caminho de transformação que nos conduz ao encontro com as outras pessoas e com a Criação. Assim, em nossa vulnerabilidade se manifesta a força do Amor de Deus (2Cor 12,10).
Para saber mais
Parte 2: Geração Fundacional como inspiração de transformação
Parte 3: Transformação a partir da interioridade
2025 será o Ano da Transformação
Irmã Martina Maria Gonzáles García, SSpS
Província Brasil Norte